OPHIUSSA, TERRA DAS SERPENTES


Avieno, na Ora Marítima, ao referir-se à Península Ibérica, conta o seguinte:
“Dizem que Ophiussa é tão larga como a ilha de Pélope, na Grécia. Chamou-se-lhe primeiro Oestrymnia, porque habitaram esses lugares e campos os oestrymnios; depois, enormes quantidades de serpentes obrigaram os seus habitantes a fugir e a receber novo nome”.
Com isto Avieno terá pretendido assinalar que a Península Ibérica trocou o seu antigo nome quando, após uma invasão, foi dominada por novos habitantes. É evidente que Avieno, quando se refere a serpentes, fá-lo alegoricamente. Sendo a serpente um símbolo da sabedoria, o geógrafo latino referia-se a seres humanos muito sábios que, a um dado momento da história remota, habitaram os lugares peninsulares, após os terem conquistado.
No norte de Portugal, na Galiza e nas Astúrias abundam as tradições que falam de cavernas com tesouros guardados por serpentes. Esta é a guardiã de segredos. Por exemplo, no Egipto, os faraós exibiam o símbolo da serpente (Oreus) na fronte como sinal do seu poder. Também encontramos a figura da serpente no caduceu de Hermes (Mercúrio) e com bastante interesse a vemos representada na imagem com pés de serpente que aparece num dos selos da Ordem do Templo (o Abraxas), por baixo da inscrição “Secretum Templum.”
Eduardo Amarante

SE…


"Se o sistema que hoje vivemos fosse bom;
se todos cumprissem bem o seu papel e as suas responsabilidades;
se houvesse de facto justiça, concórdia e oportunidades iguais para todos;
se não faltasse a moral nem uma espiritualidade viva… que recear do amanhã?!
Só reclama pão quem tem fome;
só reclama ordem quem se sente ameaçado;
só reclama espiritualidade quem não a encontra onde a esperaria encontrar.
Receia-se o futuro porque se fracassou e criam-se bodes expiatórios para ocultar o próprio fracasso.
Que receiam os Velhos do Restelo? O passado longínquo que fez grande a nação que é hoje Portugal. Os heróis da nacionalidade, os génios da política estratégica de então. Receiam, sobretudo, os filhos de Luso, aquela raça guerreira que não tinha medo de combater contra números desproporcionados de exércitos. Actualmente, os nossos símbolos sagrados estão enterrados pela arte e o engenho das forças das trevas que apagam a identidade do povo." – Eduardo Amarante

LUGARES MÁGICOS, VIRGENS NEGRAS E SERPENTES DA TERRA


"A Terra emite forças próprias segundo trajectórias horizontais e recebe forças cósmicas segundo trajectórias verticais. Estas duas linhas cruzam-se no interior da Terra nos chamados pontos telúricos que percorrem linhas sinuosas de importância variável. As linhas eram, na antiguidade, conhecidas por Serpentes da Terra e veneradas como sendo divindades ctónicas, ou das profundezas e era-lhes atribuída a cor negra. Este facto deu origem às Virgens Negras, cujos santuários foram edificados em pontos telúricos especiais, já sinalizados outrora pelos celtas e pelos construtores de megálitos. Nesses pontos eram edificados os templos (lugares mágicos ou de culto), desde as mais remotas eras. 
Em Portugal, os antecessores dos lusitanos sinalizaram esses lugares, erigindo aí dólmens e menires. Mais tarde, os celtas reutilizaram esses lugares mágicos, construindo sobre eles os seus templos. Os celtas chamavam wouivires tanto às serpentes que deslizam na Terra como às forças telúricas que percorrem o subsolo. Por fim, os visigodos, herdando esses conhecimentos sobre as energias telúricas que lhes foram transmitidos pelos druidas, deram continuidade à tradição universal, reactivando com seus santuários esses poderosos pontos energéticos."


In Eduardo Amarante, "Portugal e os Seus Lugares Mágicos".

O SÍMBOLO DA SERPENTE


O símbolo da serpente, ondulando em forma ziguezagueante sobre a superfície terrestre, é o mais representativo da sacralidade do mundo. Na Antiga Tradição é tido como um dos aspectos visíveis e terrestres da divindade que percorre e alimenta o interior da Terra, garantindo o seu equilíbrio geomagnético. As energias cósmicas e telúricas, quando conjugadas num ponto do planeta, concentram nele uma forte carga energética, atribuindo a esse lugar um valor sagrado, mágico. Aí os antigos erigiam os seus monumentos megalíticos procedendo a cerimónias religiosas em troca das benesses recebidas.
In "Portugal e os Seus Lugares Mágicos", Eduardo Amarante

O SELO TEMPLÁRIO


"O selo da Ordem do Templo simboliza a dupla natureza, divina e humana, assim como a dualidade em cada ser, “animus/anima” (segundo C. G. Jung), e o cavalo sobre o qual dois cavaleiros estão montados possibilita a passagem entre dois mundos: o celeste e o terrestre. Esse cavalo não deixa, curio­samente, de evocar o mítico Pégaso, mensageiro dos deuses que assegurava a comunicação entre eles mediante uma linguagem velada aos profanos, a cavala, que se tornou na “cabala” segundo os princípios da ciência hermética medieval. Além disso, os dois cavaleiros e o seu cavalo evocam a tríplice natureza do ser: spiritus (espírito), animus (alma), corpus (corpo), estando este último representado pelo cavalo, tal como nos ensina Platão no Fedro, sugerindo que o corpo não é senão o veículo da alma e do Espírito divino.

Quando observamos o selo da Ordem do Templo representado pelos dois cavaleiros sobre uma mesma montada, nada mais vemos senão DOIS cavaleiros sobre UM cavalo. Ora, dois sobre um é precisamente a relação que existe entre a largura e o comprimento da Mesa Rectangular que serve de base à edificação de uma catedral. Trata-se, pois, de uma imagem por demais edificante. Esta mesa contém o centro sagrado, o lugar de onde partem todas as medidas de construção. Por outro lado, a imagem mostra que 2 estão sobre o mesmo cavalo, a mesma Cabala, ou seja, a mesma tradição cifrada que dá os parâmetros de construção de uma catedral ou de um homem verdadeiro. 2 + 1 = 3, sendo o 3, num dos seus aspectos, o duplo triângulo: um, receptáculo das energias telúricas; o outro, das energias cósmicas. O entrelaçamento de ambos forma o Selo de Salomão ou Estrela de David, assinatura e instrumento dos construtores. Simboliza a energia vital cósmica que anima a obra ao se unir ao septenário sagrado, sintetizando a Terra (4) e o Céu (3) e integrando o Homem (5)."

Eduardo Amarante

In "Templários - De Milícia Cristã a Sociedade Secreta", Apeiron edições

O SONHO


"O sonho, que é a essência do ser português, move este último no sentido da realização, mas as suas raízes estão no mundo do Espírito. Neste sentido, a tríade pessoana de “Deus Quer / O Homem Sonha / A Obra Nasce” tem a sua representação simbólica no triângulo formado, de cima para baixo, pelo Mundo dos Arquétipos ou do Espírito, pelo Mundo da Psique ou da Alma e, por fim, pelo Mundo da Matéria, da plasmação da Ideia, do Arquétipo, do ensinamento esotérico.
Quando o Sonho é suficientemente grande e forte nasce a capacidade de agir, de se manifestar. Então a “Obra nasce”. Eis aí o Lugar Mágico por excelência, que não pode ser compreendido sem essas três chaves interpretativas ou atributos logóicos do Universo. Tal como o macrocosmos, o homem, como microcosmos, é formado pelas mesmas três realidades, ou três mundos:
1) A realidade arquetípica ou espiritual que lhe é quase inacessível;
2) A realidade psíquica da Alma;
3) E a realidade física, em que a Alma está na encruzilhada, crucificada, entre o mundo espiritual ou arquetípico, representado pela linha vertical, e o mundo fenoménico, material ou físico, representado por uma linha horizontal.
A intersecção destas duas linhas forma o símbolo iniciático da cruz.
Por vezes, encontramos em muitos templos, na intersecção da nave com o transepto (homem de braços abertos, cuja cabeça é simbolizada pela ábside), um coração ou algo equivalente como, por exemplo, uma rosa, que representa o renascer, o corolário da nossa evolução, o reencontro com a nossa Alma imortal."
Eduardo Amarante