A ORDEM DO TEMPLO E OS INICIADOS MUÇULMANOS


A enigmática Ordem dos Irmãos do Oriente, fundada nos inícios da segunda metade do século XI por um escritor e homem de Estado bizantino, Michel Psellos, estava profundamente impregnada de doutrinas herméticas, neopitagóricas e neoplatónicas. Após a morte de Psellos, um iniciado ter-lhe-ia sucedido, cujo patrónimo era Melquisedeque, o mesmo nome do rei de Salem, do “rei de justiça” de que fala a Bíblia (*). 


Segundo tudo indica, Hugo de Payns e Hugo de Champagne ter-se-ão encontrado com este iniciado durante a sua estada em Bizâncio (Constantinopla).
Note-se que outros contactos dos cavaleiros fundadores da Ordem do Templo com sociedades secretas haviam tido lugar noutras ocasiões.

(*) A título de curiosidade, referimos que Melquisedeque encontra-se representado num painel da Igreja de S. João Baptista, em Tomar, ao lado de Abraão.

In Eduardo Amarante, “Templários”, Vol. 3

SAGRES, A ESCOLA DA CRUZADA MARÍTIMA


"O cabo de S. Vicente/Sagres tornou-se o refúgio do Infante, e uma casa modesta na aldeia da Raposeira, a pouca distância dali, era o local aonde se dirigia para estudar e meditar.

Heródoto, há mais de dois mil anos, escreveu que:

“O mar para além das colunas de Hércules que se chama o Atlântico, e o Eritreu são todos um e o mesmo mar… Quanto à Líbia, sabemos que é banhada por todos os lados pelo mar, excepto naquele em que liga à Ásia.”

Foi de Sagres que partiram as primeiras naus dos Descobrimentos. Não terá aí existido uma Escola de navegação no seu sentido mais científico, mas antes um centro de reunião onde se estudava matemática, geografia, astronomia e ciências naturais. Aí eram estudados e analisados todos os conhecimentos e informações que se mostrassem proveitosos para a prossecução das viagens marítimas. Por outro lado, as experiências colhidas nas diversas fases da navegação marítima, bem como as explorações efectuadas no interior das terras africanas onde se descobriram novas condições de vida e uma flora e fauna exóticas, eram observadas cientificamente em Sagres. Também foi ali que existiu o primeiro observatório astronómico português.

O Infante faleceu em Novembro de 1460, não chegando a assistir ao triunfo da sua cruzada. Porém, anteviu como Portugal se iria tornar a maior potência marítima do Globo. Entre o lançamento oficial da epopeia marítima e a realização plena do objectivo decorreriam oitenta anos. Só em 1498 é que o cavaleiro-iniciado Vasco da Gama conseguiria chegar por via marítima à Índia." 



in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS", Vol. 3 - A perseguição e a política de sigilo de Portugal: A missão marítima

OS TEMPLÁRIOS, A REENCARNAÇÃO E O CULTO JOANINO


Os templários seguiam o culto de S. João; eram joanitas, no sentido mais profundo do termo. Aliás, tudo neles o indica, desde o selo da Ordem expressando a natureza dupla, em que dois irmãos montam o mesmo cavalo, até às metades branca e negra do Baussant ou gonfalão, opondo a luz à obscuridade.

Tudo isto demonstra que os cavaleiros do Templo não eram apenas simples monges-guerreiros ao serviço de um Papa representando uma certa cristandade, afastada, por sinal, da mensagem mais interna ou esotérica do seu fundador.

Esta verdadeira gnose cristã defendia a crença na transmigração das almas (reencarnação), seguida pelos primeiros cristãos e por alguns Padres da Igreja, tais como S. Clemente de Alexandria, que escreveu:
“A Reencarnação é uma verdade transmitida oralmente e autorizada por S. Paulo.”

E por Orígenes, que disse:
“Quanto a saber por que é que a alma humana obedece tanto ao bem como ao mal, é preciso procurar a causa num nascimento anterior.”

Dos ensinamentos de Jesus Cristo brotaram duas Igrejas: uma que conhecemos e outra que ignoramos. Em cada uma delas encontramos os traços marcantes dos apóstolos que as edificaram. A primeira foi erguida à imagem de Pedro, espírito recto e simples, ingénuo e limitado, mas capaz de dirigir os outros.

A Igreja de João é a herdeira da Igreja de Melquisedech ou Melquisedeque, a Igreja dos que recusam as trevas e procuram a luz da Sabedoria e da Verdade. João, discípulo predilecto de Cristo, foi o único capaz de compreender a sua doutrina esotérica e de revelá-la no seu Evangelho e no seu Apocalipse, explicando através de um simbolismo alegórico os mistérios do Universo e do Ser: a sua evolução e a sua transformação, sujeitas às leis cósmicas. Ora, era esta a Igreja perfilhada pelos templários. 




in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS", Vol. 3 - A perseguição e a política de sigilo de Portugal: A missão marítima

A PUREZA DO CULTO DO ESPÍRITO SANTO


"O único 'barco salva-vidas' que hoje existe no cristianismo é o culto do Espírito Santo. Este culto existe desde o início da cristandade e sobreviveu, apesar dos ferozes ataques de muitas organizações diferentes, mantendo dentro de si grande parte das bases do cristianismo autêntico inicial.

Ao contrário das grandes organizações religiosas cristãs, o culto do Espírito Santo não possui organização eclesiástica e, por isso, não existe a possibilidade de alguém mal-intencionado usurpar um lugar nesta organização, porque a “organização” não tem organização. Trata-se de um culto espontâneo de pessoas convictas na sua acção cristã que sentem alegria em ajudar sem pedir nada em troca. O culto do Espírito Santo baseia-se na tolerância e na ajuda, que são os dois elementos mais básicos de todas as religiões."

in Rainer Daehnhardt, "Ser Português - uma honra, um privilégio merecido ou um acaso assumido?"

A POLÍTICA DE SIGILO DA ORDEM DE CRISTO


"A presença templária em Sagres e as reuniões secretas tidas com o Infante no convento de Cristo (2a província templária no mundo) dão um indubitável cunho “secreto” à epopeia marítima lusíada. O conhecimento da cartografia antiga e o método científico praticado pelo Infante e seus sucessores demonstram inequivocamente que todos eles sabiam muito bem onde, como e quando queriam chegar.

Enquanto o segredo sobre dados marítimos esteve sob a sua alçada, a estrutura secreta da Ordem garantiu a exclusividade para os portugueses. Em Tomar e em Lagos, os navegadores progrediam na hierarquia somente após a sua lealdade ser comprovada, quando confrontados na acção. Só então é que eles podiam ter acesso aos relatórios reservados de pilotos que já haviam percorrido regiões desconhecidas e ver tão preciosos quão secretos instrumentos como as tábuas de declinação magnética, que permitiam calcular a diferença entre o pólo norte verdadeiro e o pólo norte magnético, que aparecia nas bússolas. E, à medida que as conquistas progrediam no Atlântico, eram feitos novos mapas de navegação astronómica, que permitiam a orientação pelas estrelas do hemisfério sul, a que também só os iniciados tinham acesso." 



in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS", Vol. 3 - A perseguição e a política de sigilo de Portugal: A missão marítima

A SUBVERSÃO DOS IDEAIS TEMPLÁRIOS


"D. João III decidiu reformar a Ordem de Cristo que deixou, a partir de então, de ser uma Ordem de cavalaria para se tornar uma Ordem monástica. Algo de muito importante foi então destruído, e esse algo era
 a cruzada pelos oceanos não só físicos, mas, sobretudo, espirituais.

Se recordarmos que a cruz da Ordem de Cristo apresenta, na sequência da sua congénere templária, uma forma quadrada de braços iguais a tocarem-se nas extremidades, veremos, porém, que a cruz desta nova Ordem se torna “elevada nos finais do século XVI e em pleno século XVII” (Cardoso Pinto). O que significa esta mudança? Este facto só por si pode muito bem representar a subversão dos ideais da Ordem de Cristo/Templários mediante a centralização do poder real e do estabelecimento da Inquisição, que levou à feitura de uma cruz elevada, parecida com a cruz de Santiago, traduzindo o dogma católico de uma “antropomorfização” da mesma." 



in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS", Vol. 3 - A perseguição e a política de sigilo de Portugal: A missão marítima

A ORDEM DE CISTER E OS TEMPLÁRIOS EM PORTUGAL


“Em nenhum outro país da Europa a Ordem de Cister exerceu uma tão inegável e duradoura influência como em Portugal.

Tarouca e Lafões contam-se entre os primeiros mosteiros cistercienses em Port

ugal. Seguiu-se-lhes Santa Maria de Alcobaça, que logo se tornou o mais importante mosteiro cisterciense no nosso território e um dos mais notáveis da Europa.

Aí os monges realizaram um trabalho muitíssimo importante, sem o qual os Templários não teriam a necessária retaguarda para o desempenho da sua missão de monges-guerreiros ao serviço de uma nação e de um projecto global: a união do Ocidente e Oriente em torno de um império espiritual.

Em Alcobaça, para além da sua importantíssima biblioteca, existiu, de facto, o que, com propriedade, poderemos chamar de primeiro centro de estudos superiores em Portugal, ou seja, Alcobaça foi a legítima precursora da Universidade Portuguesa. Para além da oração e do estudo, os monges cistercienses desenvolveram extraordinariamente a agricultura, dentro do perfeito espírito monástico do Ora et Labora, oração e trabalho, contemplação e acção." 



in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS, Vol. 2 - A génese de Portugal no plano peninsular e europeu"

A IMPORTÂNCIA DA ORDEM DE CISTER NO DESENVOLVIMENTO DE PORTUGAL


D. Afonso Henriques doou à Ordem de Cister ou a S. Bernardo extensos territórios na Estremadura (onde se inclui o mosteiro de Alcobaça), província que na altura estava deserta
 e constituía a fronteira entre cristãos e muçulmanos. Daí que S. Bernardo tratasse de encarregar Gualdim Pais, 4º grão-mestre templário em Portugal, de fazer uma cintura defensiva à volta dos bens da Ordem.

A Ordem de Cister foi fundamental para a colonização do território. A sua acção incidiu em:
• chamar, proteger e educar os colonos que formaram povoações;
• desbravar terras, abrir estradas e caminhos;
• construir pontes;
• comunicar com o mar que era uma forma de aproveitar a navegação;
• criar e aperfeiçoar as indústrias;
• explorar minas e os seus recursos;
• promover a criação de gado;
• lançar as bases de uma civilização.

Este papel era semelhante noutros mosteiros espalhados por outras localidades. Sob a protecção das Ordens militares colocaram-se colonos e cultivadores formando núcleos de população que, em alguns casos, se tornaram povoações importantes, como foi o caso de Tomar, muito graças à acção do mestre provincial dos Templários, Gualdim Pais.

Como forma de fixar a população, organizá-la e administrá-la em núcleos, D. Afonso Henriques concedeu foral a muitas terras, seguido pelas casas monásticas e pelos nobres donatários. 



in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS, Vol. 2 - A génese de Portugal no plano peninsular e europeu"