A "ARCA DE NOÉ" NA SERRA DO ALVÃO




“Na Lusitânia, onde se inclui grande parte do território português, também existiam druidas, os quais, inclusive, faziam muitas referências ao dilúvio universal, falando mesmo de 7 criações e de 7 destruições.
Na Serra do Alvão existe uma pedra a que os historiadores chamam “Arca de Noé” que, aliada a inúmeras tradições orais, completa o quadro de referências a um dilúvio ocorrido em tempos imemoriais. Actualmente, esta sabedoria antiga perdeu-se e a nossa visão do mundo, tão materialista e consumista, turva o nosso olhar quando observamos a natureza e o céu, reduzindo toda a ciência a um objectivo de lucro e de benefício imediato.”

in "Universo Mágico e Simbólico de Portugal", Eduardo Amarante

O CARNAVAL E O SEU SIMBOLISMO



“O Carnaval, mais conhecido no meio rural como Entrudo (introitus, entrada) é um rito de passagem de um tempo velho para um tempo novo. Teve a sua última forma expressa nas Saturnais romanas, que compreendiam um conjunto de ritos visando a expulsão das forças malignas do Inverno, em vista da renovação da natureza.
Trata-se, fundamentalmente, de uma cerimónia de purificação de fim de Inverno (a morte que precede a vida) para dar início a um novo ciclo de fertilidade.
Originariamente, nessa ocasião acontecia um conjunto de ritos, tais como purgações, procissões mascaradas (as máscaras representam as almas dos mortos que apelam à vida, e a morte do Inverno), extinção e reactivação do fogo, com vista à destruição de tudo o que representava o tempo passado, para dar lugar, com o reavivar do fogo, à criação, à restauração das formas.
Estes dias de festa são caracterizados por uma licenciosidade sem malícia que funciona como uma catarse colectiva (abolição das formas, regresso ao caos, prenúncio de uma nova ordem, de um renascimento colectivo), onde se assiste à exteriorização da própria alegria. Nas aldeias de Portugal esta festa é “inteiramente espontânea e desorganizada. O trabalho é interrompido durante os três dias gordos, a ruptura com o quotidiano é total.
Em terras transmontanas, os festejos dos três dias de Entrudo correspondem às Bacanais de Março. Celebrizam-se pelas grandes comezainas, mascaradas e bailes.
O Carnaval é a expressão de antigos cultos agrários associados ao Sol. Em certas localidades queima-se ou mata-se o Meco, figura de palha que simboliza o Inverno ou a morte invernal da natureza. Desse modo, esta festividade aparece como vestígio remoto das cerimónias de purificação das forças malignas do Inverno, com vista à renovação da vegetação, cerimónias essas que, reforçamos, tiveram sua última forma de expressão nas Saturnais romanas.
Originariamente comportavam o sacrifício anual do Rei, que transparece nos actuais enterros do Entrudo nas suas várias formas, nas lutas do Verão e do Inverno, expulsões da Morte, etc., e caracterizavam-se pela sua total licenciosidade, prenunciando magicamente a alegria causada pela abundância que se adivinhava.
O Carnaval mergulha a sua raiz mais funda numa cerimónia de carácter religioso em vista da fertilidade.” – Eduardo Amarante

SINTRA, A SERRA DA LUA



A santificação do lugar é muito anterior à vinda dos Romanos para a Península Ibérica. Nos tempos proto-históricos, este monte sagrado situado nas proximidades de Lisboa tinha o nome de Serra da Lua. Da época romana temos, também, da região de Sintra, inscrições consagradas ao Sol e à Lua. “Não seria de estranhar, escreve Leite de Vasconcelos, que os Fenícios ali tivessem um santuário com a invocação da Lua, como decerto os tinham no Sacro Promontório em honra de outros deuses: em tal caso o respectivo nome da divindade seria Astarte, deusa semítica da Lua e do oceano, a que os Gregos fizeram corresponder Afrodite.”[1]
Etimologicamente, a palavra Sintra provém de Sin, nome que os Babilónios davam à Lua e do qual os hebreus extraíram SINAI (do caldeu SIN-AI = Monte da Lua). O sufixo TRA (SIN + TRA), que significa três, foi acrescentado pelos antigos Lusos, para, dessa forma, designarem “o conjunto de três coisas, qualidades ou atributos da deusa Sintra, no seu aspecto de Lua no Céu, Diana na Terra e Hécate no Inferno.”[2]

in Eduardo Amarante, "Universo Mágico e Simbólico de Portugal", Apeiron Edições



[1] Leite de Vasconcelos, Religiões da Lusitânia, vol. 2.
[2] M. Labrator, A Mística Lenda de Sintra.

OS LUSITANOS E A CRENÇA NA IMORTALIDADE DA ALMA


“A religião dos Lusitanos era panteísta, sendo mais que provável a existência de um “colégio” sacerdotal à semelhança do druidismo celta.”

“Os Lusitanos tinham a firme crença na imortalidade da alma. Encaravam a morte com uma grande tranquilidade, o que contrasta bem com o temor supersticioso que este evento natural representa nos nossos dias, e isso devia-se à firme convicção que tinham na realidade da reencarnação. Davam uma grande importância aos cultos funerários, os quais tinham por objectivo assegurar, nas melhores condições possíveis, a passagem da alma do plano terrestre à sua nova morada etérea, onde iria permanecer até ao momento de regressar ao convívio com os mortais. É claro que a constatação desta “outra realidade” dava às suas existências um sentido mais heróico e ritualista, bem distante, por certo, das angústias existenciais do nosso tempo.” 

in Eduardo Amarante, "Universo Mágico e Simbólico de Portugal"

DAS ORIGENS DO PENSAMENTO MÍTICO AO NOVO ESPÍRITO ANTROPOLÓGICO



Até há bem pouco tempo entendia-se por “pensamento mítico” o modo de pensar – que se reflectia em práticas mágico-religiosas – das sociedades arcaicas situadas nos últimos degraus da civilização. Pensava-se, então, que o mito não passava de uma fábula sem qualquer conteúdo real. O mito seria o modo pelo qual mentes infantis e supersticiosas procuravam explicar os fenómenos naturais que presenciavam a cada passo (como seja o relâmpago, o trovão, etc.) sem poderem descortinar as suas causas e, por isso, temiam-nos. Por outras palavras, o mito não seria mais do que o modo de expressão do homem primitivo que via em tudo aquilo que não compreendia fenómenos produzidos por forças sobrenaturais que ele, temeroso, venerava e cultuava, fazendo libações e sacrifícios a fim de que esses poderes deificados lhe manifestassem o seu agrado através de dádivas (chuva, fertilidade, etc.) ou, pelo menos, o não castigassem por meio de todo o tipo de calamidades.

As chamadas “mitologias” exprimiriam esta maneira de pensar do homem de mentalidade primitiva, se bem que de uma forma mais elaborada. Assim, por exemplo, as mitologias grega, ou suméria, etc., não passariam de uma espécie de “contos de fadas”, de inocentes mentiras em que acreditaram piedosamente milhões de pessoas durante milhares de anos. O interesse da sua divulgação actual reduzir-se-ia à esfera meramente cultural, com comentários bem explícitos sobre o grau de superstição dessas gentes, para que não restasse a menor sombra de dúvida no espírito daquele que se iniciasse no estudo das antigas culturas. Curioso conceito de “cultura” é este que se fundamenta em pressupostos e em dogmas. Para que serve saber, perguntamos, se a cultura que nos é fornecida, em vez de estimular a reflexão é um meio de imposição de crenças tão efémeras como o nosso próprio século. A vaidade humana, que impede reconhecer que errámos, tem sido o maior obstáculo ao verdadeiro progresso da Humanidade.

Começa a ser evidente o absurdo que é pensar que homens como Sócrates, Platão, Pachacutec, etc., estivessem imbuídos de mentalidade primitiva. Por outro lado, e paralelamente a isto, os avanços da Hermenêutica e da própria Antropologia forçaram a uma revisão do conceito de mito, e os aturados estudos efectuados nas últimas décadas em torno do pensamento mítico no seio das sociedades primitivas por especialistas como Mircea Eliade, Malinowski ou Gilbert Durand, a par da valorização do pensamento simbólico-analógico produziram, necessariamente, os seus efeitos positivos.
Creio que se está a processar uma autêntica revolução de mentalidades, cujos resultados se verão num futuro não muito distante.

Era necessário e inevitável que isto viesse a suceder. A nossa época perdeu as suas raízes. Sentimo-nos desenraizados e esse sentimento engendra angústia e loucura. Vive-se perigosamente num ambiente de instabilidade em que tudo foi posto em causa: os sonhos, as ideias, as crenças e os costumes. Não se pode viver assim durante muito tempo. Por isso se fala tanto em evasão, em liberdade, em crise. Pressentimos que algo vai mudar e, embora a maioria – como desde sempre todas as maiorias –, prefira não pensar e vá vivendo com o que tem e como pode “à espera de melhores dias”, há os que acreditam num “Fim do Mundo” próximo e outros, mais optimistas, numa próxima “Idade de Ouro”. Surge de novo o interesse por velhas superstições e as outrora “ciências malditas”, como a Astrologia, têm cada vez mais adeptos e já são estudadas em algumas universidades. Aparece, renascido das cinzas, o mito a impregnar o ambiente social. Na verdade, como demonstra M. Eliade, o mito nunca deixou de existir, de impregnar o homem, nem mesmo nos tempos modernos; simplesmente caiu na esfera do profano no seio de uma sociedade dessacralizada. Agora renasce, purificado pelo fogo, como um apelo atávico do Homem em busca das suas raízes.

Uma época de crise é uma época de mudança, como indica a própria etimologia da palavra. Cremos que muita coisa irá mudar, mas tudo será para nosso bem, visto existir um arquétipo evolutivo, ou seja, um plano cósmico que se vislumbra melhor precisamente nas charneiras da História.
Nas raízes da História está a chave que abre as portas do futuro. Por isso vamos dar ouvidos ao apelo que nos vem do mais fundo dos tempos e mergulhar, livres de tabus e preconceitos, no ambiente acolhedor do mito.

1.      O sagrado e o mito
O mito contém na sua raiz etimológica a própria ideia de “mistério”. Com efeito, a presença do mito é uma constante nas sociedades de corte iniciático. Para Luc Benoist[1] “o desenvolvimento de uma verdade doutrinal em mito não é uma fábula, visto que o vocábulo fábula provém de uma outra raiz que significa palavra (fabula), enquanto o vocábulo mito provém de uma outra raiz que significa mudo e silencioso (mutus). Ora esta ideia de silêncio prende-se às coisas que, pela sua própria natureza, são inexprimíveis a não ser por símbolos. Mito e mistério emanam pois da mesma ideologia esotérica, cujo carácter provém da sua primordialidade e da sua necessidade”. O mito é, por conseguinte, o relato de uma história verdadeira, sagrada, que se situa for a dos limites espacio-temporais. Daí o seu carácter subjectivo que actua nos domínios do inconsciente e que, portanto, é reversível. Na opinião de C. G. Jung o “inconsciente colectivo” precede a psique individual. Quer isto dizer que o mito é o móbil determinante do comportamento do homem. Viver um mito significa ter acesso à esfera do inconsciente que é um verdadeiro percurso iniciático. “Viver os mitos – escreve M. Eliade – implica uma experiência verdadeiramente ‘religiosa’, visto que se distingue da experiência vulgar da vida quotodiana”[2]. E, para o homem religioso o essencial precede sempre a existência.

O mito designa uma “história verdadeira”, porque sagrada, quer dizer um acontecimento primordial que teve lugar no começo do tempo. “O homem é aquilo que é hoje porque uma série de acontecimentos ocorreram ab origine. Os mitos contam-lhe esses acontecimentos e, ao fazê-lo, explicam-lhe como e por que razão ele foi constituído desse modo. Para o homem religioso, a existência real, autêntica, começa no momento em que recebe a comunicação dessa história primordial e assume as suas consequências. Há sempre história divina, pois as personagens são os Seres Sobrenaturais e os Antepassados míticos.”[3]

Para B. Malinowski “o mito é um elemento essencial da civilização humana; longe de ser uma vã fabulação, é, pelo contrário, uma realidade viva, à qual constantemente se recorre, não é uma teoria abstracta nem uma ostentação de imagens, mas uma verdadeira codoficação da religião primitiva e da sabedoria prática.”[4]

Vemos, assim, que está definitivamente ultrapassada a ideia de que os mitos não passavam de meras fabulações, poéticas por vezes, mas desprovidas de conteúdo real. Ora, é precisamente o contrário que sucede. Interpretar à letra um mito, objectivamente, equivale a destruír a possibilidade de o entender. É verdade que hoje predomina o “racional”, porém, convém recordar que o acesso ao mito, em si eminentemente subjectivo, nunca se fará com esse instrumento. Por detrás do seu aspecto “fantasioso” o mito contém uma verdade oculta, uma história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. Dizia o Imperador Juliano que “aquilo que nos mitos se apresenta imverosímil é precisamente o que nos abre o caminho para a verdade. Na realidade, quanto mais paradoxal e extraordinário for o enigma, tanto mais parece avisar-nos que não devemos confiar na simples palavra, mas esforçarmo-nos em torno da verdade oculta.”[5]

A importância dos mitos na história da humanidade, e não apenas nas sociedades arcaicas é de tal ordem que, enquanto houver história haverá mitos, independentemente de se ter ou não consciência deles. Daí que não seja exagero afirmar ser impossível compreender a História, qualquer que ela seja, sem os motores ocultos que a impulsionam, isto é, os mitos.
Mircea Eliade salienta que “os mitos são a forma mais geral e eficaz de perpetuar a consciência de um outro mundo, de um além, seja ela o mundo divino ou o mundo dos Antepassados”[6]. E Van der Leeuw não hesita em afirmar que é suficiente “conhecer o mito para compreender a vida.”[7]

11. O mito e o símbolo
Se o mito é uma Ideia Primordial, a função do símbolo é de a tornar inteligível, de lha servir de “linguagem”. Dizia Santo Isidoro que o símbolo é um signo que dá acesso a um conhecimento, ou seja, é signo do invisível, do espiritual. E, neste contexto, Mircea Eliade escreve que “o símbolo revela uma realidade sagrada ou cosmológica que nenhuma outra ‘manifestação’ poderia revelar.”[8]

Na sua etimologia – em grego sumbolon – a palavra símbolo anuncia a ideia de continente e pode ser figurada por uma barca, receptáculo do sagrado. O símbolo, na sua função mediadora, é o veículo de algo que, pelo seu carácter atemporal deve ser preservado e intuído. Para M. M. Davy “a função do símbolo é de despertar o homem e de conduzi-lo ao seu princípio original, quer dizer, ao plano do sagrado no qual tudo é ordem, medida, proporção. Assim, o símbolo permite ao homem atingir um nível inacessível à razão. Ele oferece um ensinamento duplo, o de recordar o sentido de uma realidade e de indicar uma via para chegar até ela”[9]. Acrescentamos que para Platão conhecer significa recordar, isto é, conhecer e compreender o verdadeiro, o belo e o bom é, sobretudo, recordar-se, ter reminiscências vivas de uma existência puramente espiritual, no outro mundo.[10]

O acesso à compreensão de um símbolo varia consoante o nível de consciência daquele que o contempla. O símbolo em si é invariável, mas a leitura que dele se pode extraír é tão diversa quão diversos são os observadores. É por isso que os símbolos universais são uma constante em todas as épocas e lugares geográficos, porque transmitem realidades eternas alheias aos condicionalismos temporais. “Um mesmo símbolo, por exemplo a cruz, será diversamente interpretado por um homem segundo as diferentes idades do seu nascimento e do seu crescimento espiritual. O símbolo não muda, mas a mensagem que ele oferece depende do estado de consciência daquele que o capta”[11]. Assim o símbolo, “na sua realidade profunda, atesta a presença do divino, exprime o sagrado e, por esse facto, compara-se a uma revelação.”[12]

12. O mito e o rito
A palavra rito, segundo a sua etimologia sânscrita (rita) significa o que é conforme à ordem. Segundo Luc Benoist podemos definir um rito “como um conjunto de gestos, respondendo a necessidades essenciais”, devendo eles “ser executados seguindo uma certa euritmia. São gestos elementares que realizamos todos os dias e que acompanham a nossa maneira de viver, de caminhar, de nos vestir, de manifestar a nossa simpatia ou a nossa hostilidade”[13]. Para Eliade “um rito é a repetição de um fragmento do tempo original” por meio do qual o homem das sociedades primitivas se insere no “tempo mítico”, tempo esse que, acrescenta o mesmo autor, “é ‘criador’, no sentido de que é então, in illo tempore, que tiveram lugar a criação e a organização do cosmos, da mesma forma que a revelação, pelos deuses, ou pelos antepassados, ou pelos heróis civilizadores, de todas as actividades arquetípicas”[14]. “O tempo original – adianta Eliade – serve de modelo para todos os tempos; o que sucedeu um dia repete-se sem interrupção.” É por isso que “tudo quanto aos olhos do homem moderno é verdadeiramente ‘histórico’, quer dizer, único e irreversível, é considerado pelo primitivo como destituído de importância, porque não tem precedente mítico-histórico.”[15]

Aproximando estas duas opiniões, parece-nos ser correcto afirmar que um rito é um conjunto de gestos efectuados segundo uma ordem, exprimindo uma atitude de interiorização pela repetição de um modelo exemplar. Mito e rito são, pois, “as expressões complementares de um mesmo destino, sendo o ritual o seu aspecto litúrgico e o mito a sua realização através dos episódios de uma história vivida.”[16]

In Eduardo Amarante "Universo Mágico e Simbólico de Portugal", Apeiron Edições

[1] Luc Benoist, Signes, symbols et mythes, Paris, 1975.
[2] Mircea Eliade, Aspectos do Mito.
[3] Ibidem.
[4] B. Malinowski, Myth in Primitive Psychology, Londres, 1926.
[5] Juliano Imp., Contr. Héracl. 217c.
[6] Mircea Eliade, o.c.
[7] Van der Leeuw, L’Homme Primitif et la Religion, Paris, 1940.
[8] Mircea Eliade, Tratado de História das Religiões, Lisboa, 1977.
[9] M.M Davy, Initiation a la Symboloque Romane, Paris, 1977.
[10] Perante aqueles que negavam a ressurreição dos mortos, Teófilo de Antioquia apelava para os indícios (tekhméria) que Deus colocara ao alcance deles nos grandes ritmos cósmicos: as estações, os dias e as noites. Escrevia: “Não há ressurreição para as sementes e para os frutos?”
[11] M.M. Davy, o.c.
[12] Ibidem.
[13] Luc Benoist, o.c.
[14] Mircea Eliade, Tratado de História das Religiões.
[15] Ibidem.
[16] Luc Benoist, o.c.

AS “PROFECIAS” MAYAS E O SUPOSTO FIM DO MUNDO EM 21 DEZEMBRO 2012


Os sumérios, egípcios, hindus, chineses e os próprios mayas mediam os ciclos de energias cósmicas (incluindo a solar e a lunar) que transformam os campos de energia da Terra e, consequentemente, a vida planetária. Estamos, presentemente, num desses ciclos e, segundo o Calendário Maya, o ponto crítico de mudança é em 2012. Estes ciclos de energia actuam como portais que se abrem para aqueles que estão preparados para alcançarem estados mais elevados de consciência. Se essa oportunidade não for aproveitada, ter-se-á de começar um novo ciclo até à abertura de um novo portal.
A primeira notícia que se tem dos mayas data do ano 600 a.C., tempo em que há registos de simbologias esculpidas em pedras. O seu florescimento ocorreu entre os séculos II e IX da nossa Era. Sendo uma das mais antigas civilizações pré-colombianas, foram exímios na arte, arquitectura e astronomia, tendo-se revelado mestres na construção de cidades esplendorosas com os seus respectivos locais de culto, templos e pirâmides. A sua civilização estendeu-se pelas planícies da Península do Yucatán, onde hoje fica o México, por quase toda a Guatemala, parte ocidental das Honduras, Belize e regiões limítrofes, tendo constituído uma das mais complexas e influentes culturas da mesoamérica.
Na mesma altura em que a Europa mergulhava na Idade das Trevas, os habitantes da mesoamérica estudavam astronomia e astrologia. Para tal tinham dois calendários – o Haab e oTzolkin – e um sofisticado sistema de escrita hieroglífica (os glifos mayas).
Por volta do ano 900, o antigo império Maya começou a sofrer um declínio de população, e os seus sumptuosos centros urbanos foram abandonados por motivos ainda hoje misteriosos.
Os mayas clássicos eram um povo com motivações culturais e espirituais diferentes das nossas. Onde os modernos cientistas detectaram experimentalmente os efeitos físicos das radiações de densidade que varrem toda a Via Láctea, os mayas procuravam detectar experimentalmente radiações de diferentes forças que influenciavam não só o nascimento e a actividade das estrelas, como também o nascimento e a actividade das ideias. Portanto, enquanto os cientistas modernos desenvolveram um modo de consciência que lhes permite expressar os efeitos físicos dessas radiações, os mayas desenvolveram uma consciência que lhes possibilitava expressar os efeitos psíquicos dessas mesmas radiações.
O declínio da civilização maya, cujas cidades monumentais foram inexplicavelmente abandonadas no século IX, como dissemos atrás, poderá ter alguma relação com o facto do campo magnético solar e as manchas solares se terem invertido precisamente nessa época. O fenómeno provocou infertilidade e mutações genéticas na Terra e teve efeitos mais severos nas regiões equatoriais. Além das deformações genéticas e da alteração na fertilidade feminina, as actividades das manchas solares também podem ter causado uma grande seca na região dos mayas, provocada pela redução do volume de água evaporada dos mares.
Segundo cálculos efectuados pela Ciência, o ciclo de manchas solares é de 68.302 dias, e após 20 ciclos (20 x 68.302= 1.366.040 dias) o campo magnético solar sofre uma inclinação. A Terra tenta alinhar o seu eixo magnético com o do Sol e também se inclina – o que pode causar catástrofes de dimensões gigantescas no nosso planeta.
A mudança de direcção do campo magnético solar, que acontece cinco vezes em cada ciclo cósmico, é o que, para muitos, abalará o eixo da Terra, que ficará sujeita a terramotos, enchentes, incêndios e erupções vulcânicas. O próximo fim de ciclo ocorrerá em 2012 (Era do Jaguar).
Começamos, agora, a entender que a chamada adoração ao Sol, tal como é atribuída aos antigos mayas, era, na realidade, o reconhecimento de que o Sol lhes transmitia muito mais do que luz e calor.
Durante o período de conquista e ocupação espanhola, muitos dos documentos dos nativos pré-colombianos foram destruídos. Contudo, foram preservados alguns raros e preciosos manuscritos. O mais importante desses manuscritos salvos da destruição é o Códice de Dresden. Escrito em glifos, foi descodificado na Alemanha em 1880, tornando-se assim possível aos investigadores traduzir muitas inscrições encontradas nos vetustos templos mayas.
Descobriu-se, então, que o Códice de Dresden apresentava profundos conhecimentos astronómicos, com tabelas pormenorizadas dos eclipses da Lua, entre outros fenómenos. Foi também aí encontrada a evidência de dois ciclos anuais usados pelos mayas:
·      O calendário sagrado Tzolkin de 260 dias (venusiano), igualmente chamado relógio cósmico;
·      E o calendário Haab, de 365 dias (solar), baseado nos ciclos da Terra.
Constatou-se, ainda, que os mayas tinham um outro sistema de contagem de dias, chamado “Nascimento de Vénus”. Este calendário era dividido em meses (uinals) de 20 dias; e em anos (tuns) de 360 dias; e ainda em longos períodos de 7.200 dias (katun), de 144.000 dias (baktun) e de 2.880.000 dias (Pictun). Também se veio a saber que o número 13 era magicamente importante para eles, pois acreditavam que, com o nascimento de Vénus após 13 baktuns (aproximadamente 5.125 anos), chegar-se-ia ao final dos tempos (fim de um ciclo). Para os mayas, a era actual começou em 13 de Agosto de 3.113 a.C. e deverá terminar, sensivelmente, a 21 de Dezembro de 2012, quando Vénus desaparecer por detrás do horizonte ocidental, altura em que a constelação das Plêiades “nascerá” a Oriente..
Segundo o calendário maya, o Sistema Solar está em órbita em relação ao centro da Via Láctea. Esta órbita tem um ciclo de 25.625 anos, divididos em 5 fases de 5.125 anos. A razão para esta divisão é que a cada 5.125 anos acontece o chamado “pulso cósmico”, quando as ondas de energia emanam do centro da galáxia em todas as direcções, atingindo também o Sol e influenciando o seu comportamento como o dos planetas em sua órbita. No momento presente estamos a viver um “pulso cósmico” que se iniciou em 1992 e deverá terminar em 2012 (duração de 20 anos).
Nestes períodos de pulso cósmico são comuns as tempestades solares que afectam os pólos e as linhas magnéticas da Terra, causando diversas anomalias no comportamento planetário e no dos seus habitantes.
A intensidade das linhas magnéticas que cruzam o planeta de norte a sul diminui, provocando a desorientação dos animais migratórios que se orientam pelos veios magnéticos da Terra. Por sua vez, os pólos magnéticos tornam-se instáveis, com repercussões nos instrumentos electrónicos de navegação aérea e marítima.
Essa alteração do fluxo magnético planetário também tem uma influência notória sobre o comportamento humano. Quando submetido a forças magnéticas de menor intensidade, o homem tende a sintonizar-se com o inconsciente colectivo[1], abrindo caminho para a depressão, a insanidade, a intolerância e a incompreensão.
Para sobreviver aos períodos de pulsos cósmicos, o homem deve sobrepor-se ao inconsciente colectivo através da meditação e da espiritualização, procurando um rumo para a sua vida que contemple acções comunitárias e filantrópicas e uma interiorização que o leve a ser dono e senhor dos seus pensamentos e actos e não arrastado pelas circunstâncias. Desta forma tornar-se-á um importante obreiro do Bem no combate à ignorância colectiva e às paixões inferiores da multidão. E, assim, contribuirá para inviabilizar o plano dos Senhores das Trevas de instaurarem a escravatura global num mundo de ateísmo e miséria.
Como já vimos anteriormente, o Zodíaco está dividido em doze signos, de 2.160 anos cada um, chamados Era. Presentemente, estamos no período de transição entre as eras de Peixes e de Aquário, chamado Vértice, que tem uma duração de 200 anos, incluindo o último século da Era que findou e o primeiro da nova Era. A nova Era, a de Aquário, será marcada pelo culto universal do Espírito Santo e da Mãe Divina.
Os mayas sabiam que o nosso Sol, Kinich Ahau, é um ser vivo que respira e que, ciclicamente (a cada 5.125 anos), a Terra vê-se afectada pelas mudanças do Astro-Rei mediante o deslocamento do seu eixo de rotação. Previram que a partir desse movimento haveria grandes desastres.
Com base nas suas observações, concluíram que a partir da data inicial da sua civilização, desde o 4º Ahua, 8º Cumku, 3.113 a.C. ou seja, no ano 2012 d.C. (3.113+2.012=5.125), o Sol mudará a sua polaridade, o que irá provocar grandes convulsões na Terra, que darão início a uma nova Era.
Os mayas asseguravam que a sua civilização era a 5ª iluminada pelo Sol. Antes haviam existido outras quatro civilizações que foram destruídas por grandes cataclismos naturais. Entendiam que cada civilização é apenas um degrau para a evolução da consciência colectiva da humanidade. Segundo eles, no último grande cataclismo, a civilização[2] foi destruída por uma grande inundação (Dilúvio), que deixou apenas alguns sobreviventes, de quem eles eram os descendentes.
Alguns autores, na sua grande maioria sensacionalistas, afirmam que esta portentosa civilização pré-colombiana da mesoamérica terá deixado para o futuro uma mensagem escrita na pedra contendo 7 profecias, sendo uma parte de advertência e outra de esperança. A primeira, segundo eles, profetiza o que irá acontecer nos próximos tempos e a segunda fala sobre as mudanças que devemos realizar, sobretudo no nosso interior, a fim de impulsionarmos a humanidade, quer individual quer colectivamente, para a nova era que se avizinha.
Facto indesmentível é que todos nos apercebemos de que mudanças profundas estão a acontecer e pressentimos que algo mais grave ainda está para vir. É a ameaça constante de guerra, são os índices alarmantes de poluição, é a devastação dos recursos naturais, é o buraco de ozono, são as alterações climatéricas, o derretimento das calotas polares, as grandes inundações e os tsumanis, a intensidade e a imprevisibilidade de tornados e furacões, para não falarmos do aumento considerável da fome e da pobreza no mundo, acompanhadas pelo caos económico a nível global, a inversão de valores, a falta de ética e de moral, a mentira, a ausência de escrúpulos, a corrupção, as desigualdades crescentes, a injustiça… A maioria dos livros sagrados das diferentes religiões relatam profecias que têm, directa ou indirectamente, a ver com estes tempos conturbados e “apocalípticos”.
Os mayas, grandes matemáticos, astrónomos e astrólogos, previram, nos seus cálculos, que o seu calendário terminaria em 2012 da era cristã. Mas, como veremos mais adiante, trata-se apenas do final de um ciclo histórico e não de uma profecia, já que os mayas não fizeram profecias sobre o ano 2012.

in "Eduardo Amarante, "Profecias - Da interpretação do Fim do Mundo à vinda do Anticristo"


[1] A chamada alma grupal dos teósofos.
[2] Sedeada no continente Aztlán, no meio do Atlântico.

A ORDEM DO TEMPLO E OS INICIADOS MUÇULMANOS


A enigmática Ordem dos Irmãos do Oriente, fundada nos inícios da segunda metade do século XI por um escritor e homem de Estado bizantino, Michel Psellos, estava profundamente impregnada de doutrinas herméticas, neopitagóricas e neoplatónicas. Após a morte de Psellos, um iniciado ter-lhe-ia sucedido, cujo patrónimo era Melquisedeque, o mesmo nome do rei de Salem, do “rei de justiça” de que fala a Bíblia (*). 


Segundo tudo indica, Hugo de Payns e Hugo de Champagne ter-se-ão encontrado com este iniciado durante a sua estada em Bizâncio (Constantinopla).
Note-se que outros contactos dos cavaleiros fundadores da Ordem do Templo com sociedades secretas haviam tido lugar noutras ocasiões.

(*) A título de curiosidade, referimos que Melquisedeque encontra-se representado num painel da Igreja de S. João Baptista, em Tomar, ao lado de Abraão.

In Eduardo Amarante, “Templários”, Vol. 3