MAMOA DE ALCALAR - MONUMENTO INICIÁTICO


"No lugar de Alcalar, freguesia da Mexilhoeira Grande, Portimão, encontra-se o complexo megalítico de Alcalar, constituído por cerca de 12 antas de corredor com vestígios de mamoa. Entre estas, realçamos aquela que consideramos ser uma das mais importantes mamoas peninsulares, que, felizmente, está a ser preservada pelas entidades responsáveis pelo património arqueológico nacional. Não entrando aqui em considerações quanto à estrutura e finalidade desse importante conjunto megalítico de Alcalar, uma vez que as interpretações oficiais padecem, no geral, dos preconceitos positivistas do séc. XIX, entendendo a história de uma forma linear e redutora do ponto de vista simbólico-transcendental, iremos directamente tratar da mamoa em questão. A mamoa – ou tumulus – é uma anta coberta de terra, confundindo-se na paisagem com uma colina; toma esse nome porque assemelha-se a um seio de mulher. E é precisamente nesse seio que se empreende o mistério da geração. Daí que, do ponto de vista mágico-simbólico, entrar numa mamoa equivale ao regressus ad uterum, um regresso ao útero da Terra-Mãe para voltar a nascer. O re-nascido, ou seja, aquele que nasceu de novo é, aquando das cerimónias efectuadas nas mamoas iniciáticas, um homem renovado, espiritualmente consciente, porque se iniciou nos mistérios da morte e renasceu para a vida. A mamoa de Alcalar tem todas as característica de ser um monumento iniciático, visto tratar-se de uma anta de corredor, com pequeno átrio e, no lado oposto, a câmara iniciática. A sua orientação é Nascente-Poente, encontrando-se a câmara a Oeste e a entrada a Leste. O indivíduo era deitado com a cabeça voltada para poente e os pés virados para nascente. Significando o poente a morte e o nascente a vida, o candidato, ao entrar na mamoa, símbolo do útero da Mãe-Terra, dirigia-se para o país dos mortos e, superadas as provas da iniciação, renascia voltado para o Sol nascente." - Eduardo Amarante

DANÇAS SAGRADAS E MARCIAIS ENTRE OS LUSITANOS


Sabe-se que entre os antigos iberos e povos do Oriente, uma das formas do culto externo era constituída pela dança; não qualquer dança, mas sim uma especial consagrada pelas fórmulas litúrgicas,"> que tinha passes, ritmos e cadências próprias, ou seja, uma dança sagrada. “Pela música – dizia o poeta – a essência dos deuses é visível e se comunica aos seres mortais, e os sentimentos dos homens tomam a forma de objectos animados”.

Antes dos bispos de Bragança as proscreverem, havia nas tradicionais festas das aldeias danças sagradas de carácter litúrgico e ao mesmo tempo marcial. Estas danças, infelizmente, desapareceram, restando apenas a dos Pauliteiros, ainda hoje executada em terras mirandesas.

Recuperando as nossas tradições, CANTEMOS A NOSSA LIBERDADE E A NOSSA IDENTIDADE. E com os nossos tambores e gaitas-de-foles, evoquemos os nossos símbolos e os nossos heróis. Eles indicar-nos-ão o caminho para libertarmos Portugal e a Europa pela via do Espírito Santo, isto é, da paz e da compreensão mútua.

CANTEMOS E ESPALHEMOS O NOSSO CANTO PELA EUROPA FORA. Cantemos em uníssono, imitando os nossos heróis lusitanos, que avançavam para a liberdade em passo cadenciado, ao som dos seus tambores e dos seus cânticos, e os inimigos do espírito e da dignidade humana tremerão (*).

(*) Tanto os Lusitanos das montanhas como os da planície tornaram-se famosos na arte da guerra. Diz Diodoro Sículo [Biblioteca Histórica, v, 34] que os Lusitanos marcham para a guerra com passo cadenciado, e cantando hinos.

In Eduardo Amarante "Universo Mágico e Simbólico de Portugal"

PROMONTÓRIO SAGRADO – CABO DE S. VICENTE/SAGRES



"Para os gregos e romanos era o Promontorium Sacrum. Artemidoro (anterior ao geógrafo grego Estrabão) percorreu as costas lusitanas até este lugar tendo aí encontrado relíquias de um culto primitivo. Não havia neste Cabo nenhum altar, mas sim grupos de 3 ou 4 monólitos. As gentes locais acorriam a eles fazendo as suas libações e “obrigando” as pedras a girar. A estas estruturas megalíticas, a tradição popular deu diferentes nomes. Tanto no norte de Portugal, como na Galiza e nas Astúrias, deu-se-lhes o nome de mamoas, quando recobertas de terra e pedras, e isto devido à forma semiesférica de algumas que fazem recordar um seio de mulher, ou pelas inscrições e desenhos que se assemelham a ídolos representativos de deusas-mãe. Artemidoro dizia, acerca deste lugar, que os deuses aqui “vinham descansar à noite dos seus trabalhos e das suas viagens pelo mundo”. O geógrafo árabe Edrisi conta que os primeiros cristãos, muito antes da formação de Portugal, ergueram neste Cabo o Templo do Corvo, muito concorrido pelos fiéis que aqui faziam romarias e traziam oferendas. O mesmo geógrafo narra ainda o seguinte: “Ao alto do edifício estão dez corvos, que nunca desamparam aquele sítio; os sacerdotes da igreja contam deles coisas maravilhosas”. Este local está como que impregnado de mitologia e de história. O Infante D. Henrique sofreu, sem dúvida, a influência de todo o ambiente mágico do lugar. Teriam aqui também existido dois santuários: um dedicado a Héracles, a oriente (Sagres); e outro dedicado a Saturno, a ocidente (cabo de S. Vicente)." - Eduardo Amarante

O SIMBOLISMO MÁGICO-RELIGIOSO DOS BÉTILOS E DAS PEDRAS ORACULARES


No actualmente chamado Cabo de S. Vicente-Sagres viam-se outrora pedras sagradas, junto das quais se celebravam ritualmente certas cerimónias religiosas. Movers relaciona estas pedras com o culto dos bétilos. Segundo Roscher, os bétilos eram aerólitos, e supunha-se que neles existia vida divina, pelo que em certos lugares sagrados os veneravam, ungiam e coroavam.
Estas pedras tinham, sem dúvida, um simbolismo mágico-religioso.

“Em todas as épocas, escreve Leite de Vasconcelos, as pedras foram tidas, em certas circunstâncias, como divindades ou símbolos delas." Estas pedras, no que se refere a Portugal, encontram-se um pouco por todo o território, mas com especial incidência no Alentejo.

O bétilo é um termo de origem semítica (Beith-el) que significa “Casa de Deus”. Trata-se de pedras sagradas que eram um dos receptáculos da potência divina, como o Omphalos de Delfos. Simbolizam a união entre dois níveis de existência, sejam eles o Céu e a Terra, ou Deus e o Homem.

A pedra erguida, seja ela o linga hindu, o bétilo semítico, o menir céltico, o omphalos grego, o obelisco egípcio, é um símbolo universal, e concebido desde o começo como “Centro da Terra”, por onde passa o Eixo do Mundo ou Árvore cósmica que faz a comunicação entre o mundo dos mortos, o mundo dos vivos e o mundo dos deuses.

As pedras podem ser “carregadas” magneticamente, e os bétilos ou menires, quando se encontram no ponto de intersecção das energias cósmicas e telúricas, e são activados por rituais mágico-religiosos, funcionam como agulhas vitalizadoras dos pontos sensíveis ou chakras da Terra. É por isso que existem tradições em todo o mundo sobre pedras oraculares, e pedras que operam prodígios tanto no domínio da saúde como da fertilidade. Evidentemente que os construtores de dólmens e menires tinham profundos conhecimentos da anatomia terrestre, e só assim se explica o gigantesco esforço que foi necessário para a trasladação dos megálitos. Hoje só nos restam as suas ruínas e as tradições que sobreviveram ao império do tempo.

Extracto de "Universo Mágico e Simbólico de Portugal", Eduardo Amarante

A "ARCA DE NOÉ" NA SERRA DO ALVÃO




“Na Lusitânia, onde se inclui grande parte do território português, também existiam druidas, os quais, inclusive, faziam muitas referências ao dilúvio universal, falando mesmo de 7 criações e de 7 destruições.
Na Serra do Alvão existe uma pedra a que os historiadores chamam “Arca de Noé” que, aliada a inúmeras tradições orais, completa o quadro de referências a um dilúvio ocorrido em tempos imemoriais. Actualmente, esta sabedoria antiga perdeu-se e a nossa visão do mundo, tão materialista e consumista, turva o nosso olhar quando observamos a natureza e o céu, reduzindo toda a ciência a um objectivo de lucro e de benefício imediato.”

in "Universo Mágico e Simbólico de Portugal", Eduardo Amarante