É um sobrevivente.
Eternamente apoiado nos valores estabelecidos, é incapaz de fazer História, mas vive à custa da história que os seus “inimigos” fizeram. Tem a capacidade reptante de se moldar às situações novas, mas, tal como um parasita, em vez de as servir, serve-se delas para seu próprio interesse. É um oportunista. Muda na forma, mas nunca no conteúdo. Quando os “ventos” sopram a favor, o medo que nunca o larga adquire segurança, o rosto descontrai-se-lhe e a voz emite tons afáveis e monocórdicos em detrimento da verve iracunda. Porém, pouco importa de onde sopram os ventos, pois o medo fá-lo andar sempre armado com a fiel Demagogia.
Este Velho continua bem vivo (e rejuvenescido para a idade que tem) nos dias de hoje, pululando alegremente (tipo menino rabino) nas ruas, templos, casas e parlamentos, fustigando o seu látego envolto na melosa e pérfida voz da demagogia. Demagogia esta que recobre o medo de perder os seus pergaminhos. Entretanto, subrepticiamente, lá vai roubando o vigor das nossas almas.
Bufão, hediondo, mascarado de rei, enfeitiça-nos com as suas danças macabras e histéricos risos. Tomou o trono vazio, convertendo-nos em enganados prosélitos de seu jogo.
O Velho do Restelo vive entre nós. Durante anos e anos sucumbimos, por falta de experiência, ao seu encanto. Porém, quando novos valores se alevantarem a sua malediciência, cobardia e conservadorismo estéril serão transmutados.” – Eduardo Amarante