A “PROFECIA” CUMPRE-SE...

Apesar da Ordem do Templo ter acabado de morrer, naquele momento, em França, com a morte dos seus principais dignitários, os mais importantes protagonistas deste trágico caso, ao contrário do que esperariam, dele pouco iriam aproveitar:
• Um mês mais tarde, a 20 de Abril de 1314, o papa Clemente V morreu de desinteria e vómitos;
• O rei ficou paralítico após uma queda de cavalo em Fontainebleau, acabando por morrer no dia 29 de Novembro desse mesmo ano;
• Quanto a Nogaret, morreu de morte súbita em Abril de 1313, entre o concílio de Vienne e a execução de Jacques de Molay;
• Enguerrand de Marigny, acusado de alta traição no reinado de Luís X, foi enforcado em Montfalcon a 30 de Abril de 1315;
• Quanto aos juízes eclesiásticos Imbert e Plaisians, morreram igualmente de morte violenta.
Será que se tratou realmente de uma “maldição” proferida pelos templários no momento do seu suplício pelo fogo, tal como afirmam alguns historiadores, ou tratar-se-ia antes de uma visão profética captada nos últimos momentos de vida pelo mestre desta prestigiosa Ordem monástico- -militar, rodeado pelas chamas no alto da sua fogueira? Só o próprio poderia responder. De qualquer modo, e por ocasião do desenlace trágico deste iníquo processo, o povo cristão viu a intervenção divina na morte rápida e inesperada dos seus autores.
Célebre é a tradição tardia, segundo a qual o mestre Jacques de Molay, na fogueira, citou Clemente V a comparecer perante Deus nos próximos quarenta dias e o rei de França nesse mesmo ano. Ferretus Vicentinus atribui esta citação não a Molay, mas a um templário que teria sido conduzido perante Clemente V após a morte do mestre. No entanto, é lícito supor que Molay, na fogueira, tenha profetizado a vingança do Céu sobre os carrascos da Ordem do Templo.
A verdade é que, coincidência ou maldição, Clemente V morreu de desinteria e de vómitos em Roquemaure, a 20 de Abril de 1314, trinta e três dias após o suplício da sua vítima, e Filipe o Belo deixou este mundo em 29 de Novembro desse mesmo ano com apenas 46 anos. Escreveu Villani:
“O povo atribuiu a morte prematura de Filipe à cólera do Céu, que vingava assim Bonifácio VIII e os templários.”
Quanto a Carlos II d’Anjou, que enviara para a fogueira em 1308 os templários da Provença, morreu subitamente no ano seguinte.
in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS, Vol. 3 - A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal: a Missão Marítima"