A TORTURA INFLIGIDA AOS TEMPLÁRIOS

Em relação aos meios de tortura utilizados, poupamos o leitor às descrições mais violentas sem, no entanto, deixarmos de apontar as mais frequentes como forma de, por si, tomar consciência não só do modo bárbaro como eram feitas, mas também da razão por que muitos dos cavaleiros templários se viram obrigados a prestar falsas confissões, ao gosto dos seus carrascos, a fim de se libertarem desse sofrimento.
Nós mal podemos imaginar o que é que a palavra tortura podia conter de crueldade e de sofrimento. Recordemos que, antes de serem levados das profundezas dos calabouços perante o juiz implacável, os acusados já haviam passado longas noites e dias agrilhoados, no meio da obscuridade e do frio, sem se poderem mover e debilitados pela fome.
(...) Não obstante, a maior parte desses monges-guerreiros, considerando que era pecar contra Deus e contra a sua Ordem proferir tais e tão grosseiras mentiras, recusavam.
(...) Então, vendo que não conseguia vergar o acusado pela sedução, o inquisidor entregava-o aos carrascos. Estes começavam por despir o paciente, que se tornava assim mais vulnerável pela humilhação que sentia; os seus pés, ainda inchados das correntes do calabouço, eram amarrados a enormes pesos de ferro fundido; as suas mãos, ainda feridas dos punhos de ferro, eram amarradas atrás das costas, passando a corda à volta de uma polé; esta era puxada vigorosamente, deslocando assim os tendões e as articulações. Durante todo esse tempo, que parecia interminável, o escrivão impassível anotava não só as palavras que o justiçado eventualmente viesse a pronunciar, mas os gritos, os gemidos, as lágrimas e os suspiros. Por vezes, para diversificar as dores, o carrasco largava de súbito a corda, e o corpo estatelava-se brutalmente. Havia, contudo, certos juízes que “descobriam” torturas inéditas. O bailio de Mâcon mandou pender o irmão Gérard de Passay pelas partes genitais. Um suplício clássico era o do fogo: untavam-se de banha os pés do paciente e pegava-se-lhes fogo.
Com estes requintes diabólicos, os inquisidores obtiveram inúmeras confissões. Poderemos ficar surpreendidos com esta fraqueza da parte de monges-guerreiros heróicos, que haviam demonstrado em numerosas ocasiões o desprezo pela dor. Porém, há que mencionar que alguns deles, mais ingénuos, tinham reconhecido com sinceridade crimes imaginários, não por medo, mas por reverência para com o Papa e o (grão) mestre, após a audição das falsas cartas. É preciso recordar, no entanto, que, entre os cento e quarenta templários submetidos a uma pressão psicológica e a uma dor física insuportáveis, trinta e seis, só em Paris, não soltaram uma única palavra e preferiram morrer das torturas...
in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS, Vol. 3 - A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal: a Missão Marítima"