A RELIGIÃO DOS LUSITANOS



“A religião dos Lusitanos era panteísta, sendo mais que provável a existência de um “colégio” sacerdotal à semelhança do druidismo c
elta. Adoravam as forças naturais, praticando através de ritos, festas e fórmulas a magia e a fisiolatria. Esta última distingue-se da idolatria na medida em que não adoravam os objectos em si como as figuras, amuletos, etc., e sim o espírito neles contido ou representado. Cultuavam o Sol, a Lua, as estrelas, os ventos, as tempestades, os montes, as grutas, os rios, etc. O panteão lusitano apresenta inúmeras divindades da terra e da fecundidade. A mulher e a terra-mãe estavam ligadas ao culto da sagrada fecundidade. O culto às divindades ctonianas fazia-se em cavidades subterrâneas. Também tinham locais de culto em santuários situados no cimo dos montes ou junto às nascentes. Neles existia o thesaurus, área reservada à deposição de oferendas.

Os templos estavam quase sempre formados por grandes blocos de pedra não polida, abertos ao céu. As suas formas cultuais realizavam-se em torno de uma árvore sagrada: o carvalho ou azinheira, como aliás também acontecia com os druidas celtas.

in Eduardo Amarante, Universo Mágico e Simbólico de Portugal"

GUALDIM PAIS E A FUNDAÇÃO DA CIDADE DE TOMAR



1 de Março de 1160 – Dia da Fundação de Tomar 

Em 1160, D. Gualdim Pais fundou no alto do morro que fica em frente à antiga Sélio, situado próximo das margens do rio Nabão, o castelo que havia de ser a sede da Milícia, assim como a vila que viria a chamar-se Tomar, nome tomado da denominação que os Árabes davam ao rio.[1]

Gualdim Pais fora um antigo companheiro de armas de D. Afonso Henriques, tendo, aos 21 anos, participado na batalha de Ourique, onde foi armado cavaleiro. Partiu de seguida como cruzado para a Palestina, onde se distinguiu na importante batalha de Áscalon e na tomada de Sídon. Teria estado no cerco de Gaza e realizado prodígios lendários. Na Terra Santa ingressou na Ordem do Templo, onde os seus méritos o fizeram ascender aos altos cargos da hierarquia templária. Inspirado no espírito interno da Ordem e compenetrado da sua dupla missão, material e espiritual, regressou como monge-guerreiro a Portugal, tendo sido nomeado comendador em Braga e depois em Sintra, sob o mestrado de D. Pedro Arnaldo. Quando este renunciou, em 1157, Gualdim Pais[2] tornou-se mestre da Ordem do Templo em Portugal.[3]

D. Afonso Henriques tinha um profundo apreço pelo Mestre da Ordem e não foi por mero acaso que em 1157 fez doação de muitos bens a Gualdim Pais, passando no ano seguinte a carta de imunidade para a Ordem do Templo.

Assim, entre as vastas terras que possuía conta-se Ceras, junto à antiga Nabância, com todo o seu vasto termo, desde o Mondego ao Tejo, correndo pela linha do Zêzere. Como o castelo de Ceras, próximo de Tomar, estava arruinado, Gualdim Pais optou pela edificação de uma nova fortaleza em Tomar. Ali projectou instalar a sede principal da Ordem, até então em Braga. Foi a 1 de Março de 1160 que Gualdim lançou a primeira pedra para a construção do castelo de Tomar, futura sede da Ordem do Templo em Portugal.

In Eduardo Amarante, “Templários”, Vol. 2, “A Génese de Portugal no Plano Peninsular e Europeu”




[1] Procedendo ao povoamento do lugar, um besteiro – conta a tradição – ter-se-á oferecido a Gualdim Pais para lhe indicar um local que ele dizia ter sido em tempos remotos “uma mui nobre cidade dos cristãos, chamada Nabância”, terra de Santa Iria, onde houvera um mosteiro de frades dos regrados, isto é, de S. Bento, e uma “fortaleza dos cristãos”. Portanto, povoação, castelo e mosteiro já não eram novos em Tomar e foram reutilizados pelos cavaleiros templários.
De acordo com as tradições visigóticas, Tomar era um ponto telúrico extremamente forte e a sua região (que se estendia até Alcobaça e Óbidos, passando por Leiria) era assaz propícia às empresas de ordem espiritual (incluindo nesta a investigação), bem como à prosperidade material, graças à fertilidade das suas terras.
[2] Ainda que não haja certezas a esse respeito, é provável que Gualdim Pais tivesse ascendência borgonhesa e fosse filho de Hugo de Payns (um dos cavaleiros fundadores da Ordem do Templo e Mestre da mesma Ordem). Pais seria, então, o aportuguesamento da palavra Payns.
No entanto, há autores que defendem que seria filho do barão Paio Ramires. O Livro de Linhagens, atribuído ao conde D. Pedro, dá-lhe por mãe D. Gontrode Soares; porém a sua autoridade é discutível, tanto mais que são nele constantes as confusões e erros de filiação e consórcios.
[3] A este respeito não há opinião unânime sobre a ordem cronológica dos Mestres da Ordem do Templo em Portugal. Há autores que referem que Gualdim Pais foi o primeiro (em 1126), outros, porém, que é o segundo ou o quarto. Para A. Quadros, ele foi, em 1158, o sexto.
A crer-se em autores como Fr. António Brandão, Gualdim Pais já em meados de 1126 era Mestre da Ordem do Templo em Portugal. Isto quereria dizer que estava, portanto, introduzida em Portugal esta Ordem, fundada não havia uma década. Esta data é, porém, discutível, uma vez que, tomando a defesa da praça de Tomar em 1190, este “duro velho”, como lhe chama Alexandre Herculano, teria então mais de 80 anos, o que parece pouco provável, mas não impossível.