1 de Março
de 1160 – Dia da Fundação de Tomar
Em
1160, D. Gualdim Pais fundou no alto do morro que fica em frente à antiga Sélio, situado próximo das margens do rio Nabão,
o castelo que havia de ser a sede da Milícia, assim como a vila que viria a
chamar-se Tomar, nome tomado da denominação que os Árabes davam ao rio.[1]
Gualdim Pais
fora um antigo companheiro de armas de D. Afonso Henriques, tendo, aos 21 anos,
participado na batalha de Ourique, onde foi armado cavaleiro. Partiu de seguida
como cruzado para a Palestina, onde se distinguiu na importante batalha de
Áscalon e na tomada de Sídon. Teria estado no cerco de Gaza e realizado
prodígios lendários. Na Terra Santa ingressou na Ordem do Templo, onde os seus
méritos o fizeram ascender aos altos cargos da hierarquia templária. Inspirado
no espírito interno da Ordem e compenetrado da sua dupla missão, material e
espiritual, regressou como monge-guerreiro a Portugal, tendo sido nomeado
comendador em Braga e depois em Sintra, sob o mestrado de D. Pedro Arnaldo.
Quando este renunciou, em 1157, Gualdim Pais[2]
tornou-se mestre da Ordem do Templo em Portugal.[3]
D. Afonso
Henriques tinha um profundo apreço pelo Mestre da Ordem e não foi por mero
acaso que em 1157 fez doação de muitos bens a Gualdim Pais, passando no ano
seguinte a carta de imunidade para a Ordem do Templo.
Assim, entre as vastas terras que possuía conta-se
Ceras, junto à antiga Nabância, com todo o seu vasto termo, desde o Mondego ao
Tejo, correndo pela linha do Zêzere. Como o castelo de Ceras, próximo de Tomar,
estava arruinado, Gualdim Pais optou pela edificação de uma nova fortaleza em
Tomar. Ali projectou instalar a sede principal da Ordem, até então em Braga.
Foi a 1 de Março de 1160 que Gualdim lançou a primeira pedra para a construção
do castelo de Tomar, futura sede da Ordem do Templo em Portugal.
In Eduardo Amarante, “Templários”, Vol. 2, “A Génese
de Portugal no Plano Peninsular e Europeu”
[1] Procedendo ao povoamento do lugar, um besteiro – conta a tradição –
ter-se-á oferecido a Gualdim Pais para lhe indicar um local que ele dizia ter
sido em tempos remotos “uma mui nobre
cidade dos cristãos, chamada Nabância”, terra de Santa Iria, onde houvera
um mosteiro de frades dos regrados,
isto é, de S. Bento, e uma “fortaleza dos
cristãos”. Portanto, povoação, castelo e mosteiro já não eram novos em
Tomar e foram reutilizados pelos cavaleiros templários.
De acordo com
as tradições visigóticas, Tomar era um ponto telúrico extremamente forte e a
sua região (que se estendia até Alcobaça e Óbidos, passando por Leiria) era
assaz propícia às empresas de ordem espiritual (incluindo nesta a
investigação), bem como à prosperidade material, graças à fertilidade das suas
terras.
[2] Ainda que não haja certezas a esse respeito, é provável que Gualdim Pais
tivesse ascendência borgonhesa e fosse filho de Hugo de Payns (um dos
cavaleiros fundadores da Ordem do Templo e Mestre da mesma Ordem). Pais seria, então, o aportuguesamento da
palavra Payns.
No entanto,
há autores que defendem que seria filho do barão Paio Ramires. O Livro de
Linhagens, atribuído ao conde D. Pedro, dá-lhe por mãe D. Gontrode Soares;
porém a sua autoridade é discutível, tanto mais que são nele constantes as
confusões e erros de filiação e consórcios.
[3] A este respeito não há opinião unânime sobre a ordem cronológica dos
Mestres da Ordem do Templo em Portugal. Há autores que referem que Gualdim Pais
foi o primeiro (em 1126), outros, porém, que é o segundo ou o quarto. Para A.
Quadros, ele foi, em 1158, o sexto.
A crer-se em
autores como Fr. António Brandão, Gualdim Pais já em meados de 1126 era Mestre
da Ordem do Templo em Portugal. Isto quereria dizer que estava, portanto,
introduzida em Portugal esta Ordem, fundada não havia uma década. Esta data é,
porém, discutível, uma vez que, tomando a defesa da praça de Tomar em 1190,
este “duro velho”, como lhe chama
Alexandre Herculano, teria então mais de 80 anos, o que parece pouco provável,
mas não impossível.