PRISCILIANO E A GNOSE (ou a aproximação do cristianismo à religiosidade celta)



"Prisciliano (345-385) era natural do ocidente galaico-lusitano e o seu pensamento inspirou-se directamente na gnose recebida do Oriente. Essa gnose, ou conhecimento, incluía, entre outros, o maniqueísmo e o mazdeísmo, constituindo o chamado eclectismo gnóstico que se desenvolveu na Galécia nos meados do século IV. Tido como um filho espiritual do Oriente, Prisciliano quis, no entanto, num intento de unir o nascente e o poente, adaptar a Galiza e a Lusitânia “a uma forma de cristianismo mais próxima do velho sentimento celta do mundo e do ultramundo”, como refere Pedrayo na sua obra Ensaio sobre a Cultura Galega.
Prisciliano contou com o apoio de uma forte corrente feminina, e isto porque, provavelmente, a valorização da mulher no contexto do sagrado respondia à implantação do costume celta da ordem das sacerdotisas. Começou a pregar em 379, com a idade de 34 anos. Como a sua doutrina se afastava do credo de Niceia, a Igreja de Roma considerou-a herética. A reacção não se fez esperar e as suas teses foram condenadas no concílio de Saragoça, em 380. Após inúmeras peripécias e de ter sido, inclusive, acusado de magia, então interdita, Prisciliano foi condenado à morte e decapitado em 385, na cidade de Tréveris, França. O movimento priscilianista surgiu a partir de então, principalmente na Hispânia e na Aquitânia, geralmente clandestino, como uma das principais expressões do catarismo albigense. 
(…) A sua doutrina visava, dentro do espírito da gnose, adaptar a religiosidade celta ao universo católico. Prisciliano foi, sobretudo, um defensor de uma vida ascética e de virtude, tão cara aos primeiros tempos do cristianismo. Em data desconhecida veio para a Lusitânia, onde a sua doutrina rapidamente encontrou adeptos, mesmo no seio do clero. Salviano e Instâncio, bispos de duas dioceses lusitanas, foram seus seguidores."

In Eduardo Amarante, “Templários”, vol. 2


SANTIAGO DE COMPOSTELA – LOCAL DE CULTO ANTERIOR AO CRISTIANISMO


“A Europa está coberta por um vasto sistema de linhas de energia. Este sistema de linhas de energia tem a sua origem no monte Pamir (por sinal uma das montanhas sagradas dos arianos), estendendo-se até Teerão, onde se divide. Uma das bifurcações vai para a Rússia ocidental, enquanto a outra segue em direcção a Jerusalém, onde volta a dividir-se. Uma das novas linhas continua até às Pirâmides, indo depois para África, enquanto a outra penetra na Europa através de Chipre, Rodes e Santorini. Montanhas sagradas europeias e santuários de peregrinação, como Santiago de Compostela, na Galiza, estão todos ligados a este sistema de energia com origem no monte Pamir. A título de curiosidade, é importante lembrar que Portugal também possui uma linha energética recta, que vai de Santiago de Compostela a Tomar. Daí que as peregrinações ao local de culto de Santiago de Compostela já se fizessem na antiguidade, muito antes de ter surgido o cristianismo. A actual catedral foi erigida por cima de templos druídicos e romanos. Assim, não constitui surpresa verificarmos que ao longo da história encontramos o fenómeno de apropriação de lugares sagrados ou mágicos e que, quando uma religião nova chega pela primeira vez a um território, tenha a tendência de substituir a fé anterior, tomando para si os antigos locais sagrados, os santuários. Esta tem sido a fórmula encontrada para o sucesso da nova religião que, assim, não rechaça de forma brusca a antiga crença, antes aceitando os antigos locais de culto para uso próprio. A cristianização é o caso mais concreto da forma como eram transformados os antigos templos de culto[1], de cariz pagão, em templos de tradição religiosa cristã, bastando para o efeito colocar uma imagem ou uma cruz em cima do monumento, sendo este muitas vezes um megálito, sobretudo em Portugal e na costa atlântica europeia.”

In Eduardo Amarante, “Templários”, vol. 1



[1] Estes templos não só eram de pedra, como também podiam ser bosques de carvalhos sagrados, a exemplo do locus consecratus druida.

A EMBLEMÁTICA BATALHA DE OURIQUE - DE MILAGRE A PRIMEIRO MITO DE PORTUGAL


No dia 25 de Julho[1] de 1139 travou-se a célebre batalha de Ourique, em que D. Afonso Henriques desbaratou os mouros, cujo chefe, denominado Ismar ou Omar, conseguiu fugir, salvando a custo a vida. Segundo os cronistas antigos, a batalha de Ourique foi a pedra angular da fundação de Portugal como reino independente. Ali os soldados aclamaram rei o jovem príncipe que os conduzira à vitória sobre cinco reis mouros e os exércitos sarracenos de África e de Espanha.

Foi a mais célebre de todas as histórias de lutas contra os mouros[2]. Este facto deveu-se a uma das muitas incursões que os cristãos faziam em terras de mouros para conseguirem gado e demais despojos.
Os momentos que antecederam a batalha são assim relatados por André de Resende:
“Afonso ocupou a colina onde estava uma antiga ermida em que determinado velho, de provecta idade, vivia entre os mouros como um ermitão e que, devido à pobreza e santidade de vida, por ninguém era provocado injustamente. O quase infindável contingente militar de Ismar enchia todos os campos em redor e já esperançadamente se via a tragar os adversários cercados. Não parecia aos nossos soldados ser decisão avisada combater contra tão grande multidão, pois cada um deles teria de defrontar no combate para cima de cem inimigos, mas o príncipe robusteceu o espírito dos seus soldados por meio de um discurso cheio de esperança e firmeza. Ao mandá-los dispersar ordenou que tratassem de seus corpos e que aguardassem alegremente o dia seguinte que era santificado ao apóstolo Tiago, padroeiro das Hispânias.
Como tivesse anoitecido, veio aquele anacoreta à presença de Afonso e exortou-o a ter coragem com a revelação de uma profecia. Disse-lhe que à hora da noite em que ouvisse o som de uma sineta que estava na capelinha deveria sair da tenda pois lhe iria aparecer no ar Cristo suspenso da cruz.
Afonso, contente com uma notícia tão desejada e tão inesperada, velou toda a noite aguardando o prometido. E assim, ao romper da alva e antes do dia, ao sair da sua tenda real quando tinia a sineta, pôde olhar para o Senhor crucificado, suspenso no ar. Arrastado, quase fora de si, pelo prazer desta visão, adorando-o dizia assim: ‘Será verdade, ó Salvador do mundo, que me apareces a mim neste momento? Mas por que razão apareces àquele que em ti crê e que te honra com a maior devoção? Antes te dignasses a aparecer a estes infiéis, ignorantes da tua divindade, inimigos teus e portanto meus, para que compreendam o mistério da tua cruz e deixem de ser insensatos’. Quando com estas e outras palavras semelhantes prosseguia, como que em êxtase, foi muito agradavelmente surpreendido pela voz de Cristo que lhe falava e prometia vitória. Logo que a divina aparição se recolheu ao céu, pediu as armas, ordenou que se armassem os soldados, que se formassem as linhas de batalha e que as tubas em uníssono dessem o sinal.
Alguns dos chefes procuraram-no em nome do exército, dizendo:
- ‘Os teus homens, valente chefe, pedem que lhes permitas saudar-te como rei’.

Mas ele respondeu-lhes:
- ‘Fidelíssimos companheiros de armas! Coube-me a mim, entre vós, o nome e título suficientemente honroso de príncipe. Não ambiciono outro. E ainda que o desejasse muitíssimo ou quisesse aceder ao que pedis, nem o momento nem o local o permitem. Esforçar-me-ei por que não vos desagrade como vosso chefe; esforçai-vos vós para que eu como chefe não tenha a lamentar a perda de soldados’.
A resposta foi a seguinte:
- 'Não só prometemos o que pedes como, quanto a nós, não faltaremos ao dever. Mas pelo rei combateríamos com mais ardor, venceríamos com mais honra e morreríamos mais alegremente’.
Então, depois de quase terem forçado a quem se escusava, foi aclamado por três vezes em altos brados e ao som das tubas, clarins e tambores:
- ‘Vida e vitória para Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal’!
Depois de darem aos soldados o santo-e-senha, passam-se para o campo dos inimigos. Da parte contrária, porém, aquele inumerável exército de bárbaros estrondeava com tão dissonantes clamores e com tão terrível estrépito, que parecia que o céu vinha abaixo e que a terra era abalada por um sismo.
Principiou o combate, sangrento, implacável, da primeira hora do dia até ao meio-dia, até que o próprio Ismar, cuja vida já corria risco, vida que os nossos mais-que-tudo cobiçavam, encontrando-se em situação desesperada e tendo perdido na peleja o primo de nome Omar Atagor, neto do rei Ali, a quem constituíra seu guarda de corpo, fugiu com os reis que com ele estavam. Verteu-se, porém, tanto sangue que do local da batalha correram regos na direcção do Cobre e do Terges (rios próximo de Castro Verde). E, mais ainda, chovendo poucos dias depois, como a água tivesse lavado o chão sujo de sangue escuro e engrossado os regos, o Terges que desagua no confluente Cobres levou as águas poluídas até mesmo ao Guadiana. Afonso, o novo rei, portanto, ficou nos arraiais durante três dias conforme era hábito dos vencedores, tendo deixado o despojo para os soldados.
Ele próprio, que até então usava um escudo branco, imaginou insígnias que representassem o combate que ali se passou. Em primeiro lugar, porque no ar olhara para Cristo pregado na cruz, desenhou no escudo de prata uma cruz da cor do céu; depois, porque tinha vencido cinco reis, separou com a própria cruz cinco escudos; em cada um destes representou trinta moedas de prata, porque se considerara que por essa soma fora vendido o Salvador do mundo.
O desenho das moedas foi modificado por uma questão de comodidade pelos reis que se seguiram e em cada um destes escudos foram colocadas cinco moedas em forma de cruz, aproximadamente com a forma da letra X, de maneira que, contando duas vezes, o que está no meio e como a conta é feita desde cima e de lado a lado, se perfaz o número trinta.
Foram estas as insígnias que naquele momento e naquele lugar se adoptaram. Quanto aos sete castelos que no campo rubro do escudo régio rodeiam as orlas, relacionam-se com outra história.”[3]

O próprio D. Afonso Henriques narra este mesmo acontecimento anos mais tarde, nomeadamente a 29 de Outubro de 1152, em Coimbra, perante muitos fidalgos, entre os quais Mem Peres, que redigiu, a pedido do mestre Alberto, conselheiro de el-rei, a seguinte carta:
“Eu Afonso, rei de Portugal, filho do Conde D. Henrique, neto do grande rei D. Afonso, diante de vós, Bispo de Braga, Bispo de Coimbra e Teodósio e de todos os mais vassalos do meu reino, juro em esta cruz de metal e neste livro dos santos evangelhos, em que ponho minhas mãos que eu sou miserável pecador, vi com estes olhos indignos Nosso Senhor Jesus Cristo… e disse entre mim mesmo:
Mui bem sabes, Senhor Jesus Cristo, que por amor vosso tomei sobre mim esta guerra, contra os vossos adversários, em vossa mão está dar a mim e aos meus fortaleza, para vencer os blasfemadores do vosso nome... A que fim me apareceis Senhor? Quereis por ventura acrescentar fé a quem tanta a tem? Melhor é por certo que vos vejam os inimigos que não crêem em vós, que eu, desde a fonte de baptismo, vos conheci por Deus…
O Senhor com um tom de voz suave que minhas orelhas indignas ouviram, me disse:
‘Não te apareci deste modo para te acrescentar a tua fé mas para fortalecer o teu coração, neste conflito, e fundar os princípios do teu reino, sobre pedra firme. Confia, Afonso, porque não só vencerás esta batalha, mas também todas as outras em que pelejares, contra os inimigos da minha cruz... Acharás na gente alegre e esforçada, e te pedirão que entres na batalha com o título de Rei... Eu sou o fundador e distribuidor de reinos e impérios e quero em ti e teus descendentes fundar, para mim, um império para cujo meio seja meu nome publicado entre as nações mais estranhas’...
E que isto se passasse na verdade juro eu, D. Afonso, pelos santos evangelhos, tocados com estas mãos...”

Por sua vez, Frei Bernardo de Brito escreveu na Crónica de Cister o célebre texto que Frei António Brandão reproduziu depois na Monarchia Lusitana. Este texto, que reaviva o patriotismo lusitano, demonstra como os cistercienses, já sob o domínio castelhano, continuaram a lutar pela independência de Portugal.

O milagre de Ourique foi fruto do aparecimento de Jesus Cristo a D. Afonso Henriques como garantia da vitória em batalha tão desigual. Aparece relatado, pela primeira vez, na Crónica de 1419 de Fernão Lopes, que o achara escrito num texto mais antigo. De acordo com este mito, fora revelado a D. Afonso Henriques que Portugal era um reino de origem divina, fundado por Deus e que a sua independência assentava num direito superior ao direito humano. Daqui emerge a concepção de Portugal como País predestinado ao desempenho de uma missão providencial, a consumação do mito no futuro mediante o império universal, ou Quinto Império, profundamente espiritual.
Não obstante a narrativa de Frei Bernardo de Brito ter sido, de acordo com a maioria dos historiadores, elaborada com fins patrióticos durante a ocupação castelhana, “o seu teor literário não contradiz por si próprio a veracidade possível ou impossível da tradição” (A. Quadros).

In Eduardo Amarante, “Templários”, vol. 2




[1] Lembremos que esta data está imbuída de um profundo simbolismo, uma vez que 25 de Julho é o dia de Santiago, patrono dos exércitos cristãos na luta contra os mouros.
[2] Refira-se, a título de curiosidade, que Gualdim Pais, fundador da cidade de Tomar, participou nesta batalha ao lado de D. Afonso Henriques. Tinha na altura 21 anos de idade. Para mais informações v. mais adiante neste Capítulo § 5. A posição estratégica de Tomar e a Ordem do Templo. Gualdim Pais.
[3] Estes sete castelos têm a ver com o próprio significado simbólico do número 7 e também com a cintura de sete castelos templários em redor de Tomar, bastião-templo dos templários em Portugal, cujo papel na fundação de Portugal ao lado de D. Afonso Henriques foi determinante, como veremos mais para a frente.

ALCOBAÇA, O GRANDE PÓLO DE DESENVOLVIMENTO DO PORTUGAL TEMPLÁRIO


D. Afonso Henriques doou à Ordem de Cister ou a S. Bernardo extensos territórios na Estremadura (onde se inclui o mosteiro de Alcobaça), província que na altura estava deserta e constituía a fronteira entre cristãos e muçulmanos. Daí que S. Bernardo tratasse de encarregar Gualdim Pais de fazer uma cintura defensiva à volta dos bens da Ordem. A Ordem de Cister foi fundamental para a colonização do território. A sua acção incidiu em: 
 • chamar, proteger e educar os colonos que formaram povoações; 
 • desbravar terras, abrir estradas e caminhos; 
 • construir pontes; • comunicar com o mar que era uma forma de aproveitar a navegação; 
 • criar e aperfeiçoar as indústrias; 
 • explorar minas e os seus recursos; 
 • promover a criação de gado; 
 • lançar as bases de uma civilização. 

 Tarouca e Lafões contam-se entre os primeiros mosteiros cistercienses em Portugal. Seguiu-se-lhes Santa Maria de Alcobaça, que logo se tornou o mais importante mosteiro cisterciense no nosso território e um dos mais notáveis da Europa. Aí os monges realizaram um trabalho muitíssimo importante, sem o qual os templários não teriam a necessária retaguarda para o desempenho da sua missão de monges-guerreiros ao serviço de uma nação e de um projecto global: a união do Ocidente e Oriente em torno de um império espiritual. Em Alcobaça, para além da sua importantíssima biblioteca, existiu, de facto, o que, com propriedade, poderemos chamar de primeiro centro de estudos superiores em Portugal, ou seja, Alcobaça foi a legítima precursora da Universidade Portuguesa. Para além da oração e do estudo, os monges cistercienses desenvolveram extraordinariamente a agricultura, dentro do perfeito espírito monástico do Ora et Labora, oração e trabalho, contemplação e acção. 

in Eduardo Amarante, "Templários", Vol. 2

O PARADOXO PORTUGUÊS, O GENE LUSO E A DIÁSPORA

No inconsciente colectivo do povo português mesclam-se dois sentimentos antagónicos: o de sermos herdeiros ou descendentes de um passado histórico glorioso e o de estarmos atolados desde há séculos num ambiente de mediocridade a vários níveis. Daí os poucos altos e os muitos baixos (em termos de auto-estima) em que nos encontramos quando vivemos, por necessidade ou conformismo, alapados no pequeno rectângulo do ocidente europeu.

Só que o gene luso fala mais alto do que os murmúrios amargos do português mediano e conformado. E é este gene luso que, sentindo-se atrofiado perante tão redutoras perspectivas de vida e horizontes tão curtos, reage heroicamente, lançando-se na grande aventura da descoberta de novas terras e oportunidades, fazendo jus à memória dos seus ilustres antepassados.

Nós somos, se calhar, a própria encarnação do paradoxo. Senão vejamos: eu, quanto mais e melhor conheço os Portugueses, mais gosto deles. Isto poderá parecer, no mínimo, narcisismo e, no máximo, uma tendência xenófoba e chauvinista. Mas não! Aprecio-os e valorizo-os precisamente pela sua capacidade inata de integrar e de se integrarem no meio que os rodeia de forma pacífica e tolerante. Por outro lado, não conheço outro povo que trate tão bem, ou melhor, os estrangeiros do que a si próprio. Eis aqui a antítese do xenofobismo levada ao extremo. E, no entanto, paradoxalmente, crê numa Missão de que é um dos principais protagonistas e que alguns confundem com messianismo, mas que, na verdade, é universalista.

A mentalidade redutora e submissa a interesses materializantes e apátridas desde há décadas e um espaço geográfico reduzido levaram o gene luso a expan- dir-se pelos quatro cantos do orbe terrestre, deixando a sua semente um pouco por toda a parte e “inventando” a verdadeira globalização, assente nos valores da fraternidade entre os povos. É uma recriação, num outro plano, da aventura das Descobertas em que o poderoso gene luso foi indelevelmente plantado num grande abraço de compreensão e respeito mútuos em povos e raças tão díspares entre si, desde a Ásia às Américas e da África à Oceania.

O palpitar da Lusitanidade sente-se naqueles que, estando distantes da Pátria-Mãe, não deixam de ter orgulho em falar e, diria mesmo, em ostentar o nome de Portugal. E isso porque se identificam com os valores, a história e as tradições do nosso País. Têm uma percepção grandiosa do mesmo. À distância tem-se uma visão mais global e unificadora. As pequenas coisas, os actos mesquinhos reduzem-se a pouco mais que nada; pelo contrário, as grandes coisas, os grandes feitos, as qualidades intrínsecas ao povo sobressaem como fachos luminosos que incendeiam o nosso ser e elevam até ao infinito os nossos corações (outro símbolo de Portugal) e a nossa auto-estima, enchendo-nos de entusiasmo e de motivação indomável para fazer obra e, quando a consciência desperta, participar na realização da Grande Obra.

O gene luso, espalhado pelo mundo, ao contrário do que sucede no Portugal europeu, está mais vivo e compreende melhor o que é a Pátria e a missão a ela inerente, talvez devido à dor da ausência que desperta sentimentos olvidados e à própria “fibra” que caracteriza os pioneiros e os aventureiros do mais além... A capacidade de união da diáspora lusa é natural e bem maior do que na Metrópole e o seu entusiasmo e convicção só aguardam o grande Apelo que terá de partir da Pátria-Mãe.

Com as Forças Vivas que representam a sua diáspora no mundo, Portugal reúne todas as condições para iniciar o árduo e glorioso trabalho da construção do Quinto Império, já que a sua hora soou no relógio da História, como iremos comprovar em breve. Só falta soar o clarim!
Eduardo Amarante

Ilustração: Óleo de Mestre Carlos Alberto Santos




DEUS QUER, O HOMEM SONHA, A OBRA NASCE



DEUS QUER que entremos num novo ciclo histórico, marcado pela influência de Aquário e do regresso à Natureza, à solidariedade e aos valores do espírito. É uma oportunidade que nos dá, através de uma profunda crise, para reencontrarmos o sentido da vida, revermos as nossos prioridades e mudarmos as nossas mentalidades, substituindo o supérfluo pelo essencial.

O HOMEM SONHA com um mundo mais natural e autêntico, baseado na amizade, na fraternidade e no cooperativismo.

A OBRA NASCE graças à nossa fé, vontade e determinação em concretizar esse sonho, que dá sentido às nossas vidas. É um mundo mais belo que construímos a partir do nosso ser interior e que só é vislumbrado pelos homens e mulheres de fé, que abrem os seus corações aos influxos do mundo espiritual. - Eduardo Amarante

A MISSÃO DE PORTUGAL NO MUNDO


“Hoje, o gene luso, espalhado pelos quatro cantos do mundo desperta em comunidades culturais tão diferentes e distantes da Pátria/Mátria por meio de acções de solidariedade, fraternidade e concórdia, integrando-se plenamente dentro de um espírito semelhante àquele dos nossos antepassados navegadores quando contactavam com outras culturas distantes. São pequenos sinais, mas significativos, reflexo de uma missão que gradualmente vai-se plasmando no tempo até emergir como núcleo de um futuro império espiritual. O gene luso tem dentro de si – pulsa no seu coração – o amor fraternal, a defesa de grandes ideais como sejam a justiça, a solidariedade (vejamos o que aconteceu com Timor) e a união entre todos os homens numa paz mundial. Estes são os valores do espírito que devem prevalecer no ser humano de hoje para construir o amanhã.

Se soubermos, com sabedoria política, ultrapassar esta fase “globalizante” – este novo mito da humanidade –, poderemos ter a certeza de que o sopro mágico, essa antiga seiva que nos alimenta como povo, se manterá. E o vento da História, por mais forte que sopre, há-de passar por nós e chegar às futuras gerações, através do nosso exemplo, da nossa fé e coragem, do nosso instinto de imortalidade que viverá nelas para sempre.
E, então, a missão de Portugal será cumprida.”
Eduardo Amarante