O PARADOXO PORTUGUÊS, O GENE LUSO E A DIÁSPORA

No inconsciente colectivo do povo português mesclam-se dois sentimentos antagónicos: o de sermos herdeiros ou descendentes de um passado histórico glorioso e o de estarmos atolados desde há séculos num ambiente de mediocridade a vários níveis. Daí os poucos altos e os muitos baixos (em termos de auto-estima) em que nos encontramos quando vivemos, por necessidade ou conformismo, alapados no pequeno rectângulo do ocidente europeu.

Só que o gene luso fala mais alto do que os murmúrios amargos do português mediano e conformado. E é este gene luso que, sentindo-se atrofiado perante tão redutoras perspectivas de vida e horizontes tão curtos, reage heroicamente, lançando-se na grande aventura da descoberta de novas terras e oportunidades, fazendo jus à memória dos seus ilustres antepassados.

Nós somos, se calhar, a própria encarnação do paradoxo. Senão vejamos: eu, quanto mais e melhor conheço os Portugueses, mais gosto deles. Isto poderá parecer, no mínimo, narcisismo e, no máximo, uma tendência xenófoba e chauvinista. Mas não! Aprecio-os e valorizo-os precisamente pela sua capacidade inata de integrar e de se integrarem no meio que os rodeia de forma pacífica e tolerante. Por outro lado, não conheço outro povo que trate tão bem, ou melhor, os estrangeiros do que a si próprio. Eis aqui a antítese do xenofobismo levada ao extremo. E, no entanto, paradoxalmente, crê numa Missão de que é um dos principais protagonistas e que alguns confundem com messianismo, mas que, na verdade, é universalista.

A mentalidade redutora e submissa a interesses materializantes e apátridas desde há décadas e um espaço geográfico reduzido levaram o gene luso a expan- dir-se pelos quatro cantos do orbe terrestre, deixando a sua semente um pouco por toda a parte e “inventando” a verdadeira globalização, assente nos valores da fraternidade entre os povos. É uma recriação, num outro plano, da aventura das Descobertas em que o poderoso gene luso foi indelevelmente plantado num grande abraço de compreensão e respeito mútuos em povos e raças tão díspares entre si, desde a Ásia às Américas e da África à Oceania.

O palpitar da Lusitanidade sente-se naqueles que, estando distantes da Pátria-Mãe, não deixam de ter orgulho em falar e, diria mesmo, em ostentar o nome de Portugal. E isso porque se identificam com os valores, a história e as tradições do nosso País. Têm uma percepção grandiosa do mesmo. À distância tem-se uma visão mais global e unificadora. As pequenas coisas, os actos mesquinhos reduzem-se a pouco mais que nada; pelo contrário, as grandes coisas, os grandes feitos, as qualidades intrínsecas ao povo sobressaem como fachos luminosos que incendeiam o nosso ser e elevam até ao infinito os nossos corações (outro símbolo de Portugal) e a nossa auto-estima, enchendo-nos de entusiasmo e de motivação indomável para fazer obra e, quando a consciência desperta, participar na realização da Grande Obra.

O gene luso, espalhado pelo mundo, ao contrário do que sucede no Portugal europeu, está mais vivo e compreende melhor o que é a Pátria e a missão a ela inerente, talvez devido à dor da ausência que desperta sentimentos olvidados e à própria “fibra” que caracteriza os pioneiros e os aventureiros do mais além... A capacidade de união da diáspora lusa é natural e bem maior do que na Metrópole e o seu entusiasmo e convicção só aguardam o grande Apelo que terá de partir da Pátria-Mãe.

Com as Forças Vivas que representam a sua diáspora no mundo, Portugal reúne todas as condições para iniciar o árduo e glorioso trabalho da construção do Quinto Império, já que a sua hora soou no relógio da História, como iremos comprovar em breve. Só falta soar o clarim!
Eduardo Amarante

Ilustração: Óleo de Mestre Carlos Alberto Santos