ATÉGINA - DEUSA LUSITANA DA PRIMAVERA
"A etimologia da palavra "Atégina" parece provir do celta ate-gena que significa renascida. Atégina seria assim, na origem, deusa da terra e dos frutos da terra, que renascem todos os anos. No Equinócio de Outono, celebra-se o ritual que representa a descida de Atégina aos Infernos (submundo). Conta-nos a tradição que Atégina desce ao submundo (tal como Proserpina), em busca do seu amado Endovélico (equivalente, no submundo, a Hades/Plutão), que fora morto por um grande javali (que simboliza as forças da destruição, cuja função é destruir a forma para que a essência possa renascer). Atégina encontra-se no submundo com o seu amado Endovélico, o Muito Negro, agora Senhor do Mundo dos Mortos. Atégina, que simboliza a força que tudo vivifica, ao mergulhar nas trevas da Morte abandona o Mundo dos Vivos à escuridão e ao frio invernal, despojando a natureza de tudo o que antes era verde e florido. As imagens de Atégina e de Endovélico ficam guardadas no sacrário durante os meses escuros e só são retiradas no Equinócio de Primavera, a festa do Desabrochar da Vida. A semente, debaixo da terra, passa por um verdadeiro processo alquímico de putrefacção, surgindo, deste caos germinal, o rebento verde que se elevará, em busca do Sol: Endovélico (o que floresce), voltará a brilhar sobre a superfície. O botão, no tempo certo, florescerá, e Atégina ressurge, renascida, plena de Vida, Alegria, Beleza e Amor!"
Eduardo Amarante
Ilustração: Atégina. Mármore, 210x93x72 cm, do artista Pedro Roque Hidalgo. Museu do Mármore, Vila Viçosa, Portugal, 2008.
TAL FÉNIX, A ORDEM DO TEMPLO FOI EXTINTA E RENASCEU
Em 1307, com a perseguição levada a cabo por Filipe o Belo contra os templários, que levou à extinção da Ordem pelo poder papal a 18 de Março de 1314, o projecto templário de instalar na Terra uma Teocracia baseada na Religião Universal, formada pela essência de todas as religiões, que é una e a mesma, foi inviabilizado.
V.-E. Michelet, a este propósito, tem uma frase que é lapidar e revela bem a importância que esta Ordem monástico-militar teve nos quase dois séculos da sua existência:
“Se a Ordem do Templo apenas durou cento e noventa e quatro anos, ela levou para o país da morte o seu segredo nunca revelado, segredo tão importante que, desde há mais de seis séculos, homens vindos de diversos horizontes do espírito se debruçam sobre as suas trevas.”
A Ordem dos Templários seria extinta por toda a Europa... excepto em Portugal, onde tomou novo fôlego sob a nova bandeira da Ordem de Cristo.
in "TEMPLÁRIOS, Vol. 3 - A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal: a Missão Marítima", Eduardo Amarante
A CONDENAÇÃO DE JACQUES DE MOLAY NA FOGUEIRA
A 18 de
Março de 1314, por ordem do rei, um estrado foi colocado no adro de Notre-Dame,
onde se concentrou a multidão para ouvir a sentença. Os condenados e os juízes
subiram ao palco para dar início a tão tétrico espectáculo. Jacques de Molay,
encarcerado em Paris, compareceu juntamente com outros três dignitários da
Ordem, Hugo de Payraud, Geoffroy de Goneville e Geoffroy de Charnay, perante
uma comissão de três cardeais, para ouvir a sentença do concílio presidido por
Filipe de Marigny. Um dos cardeais recordou os “crimes” dos acusados e leu a
sentença: os quatro templários eram unicamente condenados à prisão perpétua, “por terem ingenuamente confessado os seus
crimes.”
Foi então
que, de súbito, aconteceu um golpe de teatro.
Para espanto
geral, o mestre dos templários, Molay, sem para tal ter sido convidado,
dirigiu-se ao público que se amontoava a seus pés:
“É justo que, num
dia assim tão terrível, e nos últimos momentos da minha vida, eu revele toda a
iniquidade da mentira e faça triunfar a verdade. Declaro, à face do Céu e da
Terra e confesso (…) que a nossa Ordem está inocente. Fiz a declaração
contrária para suspender as dores horríveis da tortura, e para aplacar aqueles
que mas faziam padecer. Sei dos suplícios que foram infligidos a todos os
cavaleiros que tiveram a coragem de revogar uma tal confissão; mas o ignóbil
espectáculo que me é apresentado não é capaz de me fazer confirmar uma primeira
mentira por uma segunda: a uma condição assim tão infame, eu renuncio de
coração à vida.”
E
acrescentou solenemente:
“A Ordem do Templo
é pura. Ela é santa e está inocente de todos os crimes de que a acusam.”
Jacques
Molay reclamava a sua inocência e a da Ordem, afirmando que esta era pura e que
a Regra era santa, justa e cristã e
que jamais cometera os crimes e as heresias que lhe eram imputados e que o seu
único crime consistia nas falsas confissões anteriormente pronunciadas sob
tortura.
Esta
proclamação de inocência, retomada por Geoffroy de Charnay, caiu como um raio
no adro de Notre-Dame. Adivinha-se a emoção do povo aquando do anúncio desta
revelação, mas também a cólera do rei. Era preciso fazer parar imediatamente
tão inconvenientes personagens. Filipe o Belo decidiu, então, que eles seriam
queimados vivos ao final da tarde desse mesmo dia. Por ordem sua, duas piras
foram montadas na ilha dos Judeus, de frente para a catedral de Notre-Dame.
O vigésimo segundo mestre da Ordem, antes de
desfalecer sob o ardor das chamas e com o olhar deliberadamente voltado para
Notre-Dame, realizando um último gesto simbólico, teve o cuidado de tirar o seu
manto; esse gesto ritual indicava indubitavelmente que a Ordem do Templo não
tinha falhado a sua missão, que conservava toda a sua dignidade e que estava
assim inocente de todas as acusações que lhe haviam sido imputadas.
O abandono do manto sugeria a salvaguarda dos segredos da Ordem para o futuro,
até que esta porventura ressurgisse um dia tal como Fénix renascendo das suas
cinzas.
No dia 18 de
Março de 1314, à hora do crepúsculo, na presença do rei que não quis deixar de
contemplar a sua obra, Jacques de Molay e Geoffroy de Charnay foram devorados
pelas chamas; “protestando sempre, até ao
último suspiro, a sua inocência e a da Ordem, eles mostraram uma energia e uma
resignação dignas do seu cargo e da sua virtude.”
A Ordem do
Templo foi extinta no primeiro quartel do século XIV às mãos de Filipe o Belo,
rei de França. Morreu abandonada pelo seu protector natural, o Papa, que acabou
por se render sem condições à vontade do rei.
Filipe o
Belo saía vitorioso. Mas, num ápice, Filipe o Belo obteve o efeito contrário
àquilo que pretendia. O povo de então ficou impressionado com a dedicação
destes cavaleiros templários, tão injustamente condenados, que, morrendo
calabouços ou na fogueira, não deixaram de defender a Ordem, exaltando a sua
inocência. Ainda as piras não estavam totalmente apagadas e já a multidão se
precipitava sobre elas para recolher as cinzas. Era o próprio povo que acabava
de canonizar aqueles que considerava, desde então, como mártires.
O sacrifício da morte e a afirmação por parte de
Jacques de Molay da inocência da Ordem foi a cartada decisiva e final que fez
gorar todo o plano engendrado, durante anos, pelo rei de França, Filipe o Belo,
quase sempre em conluio com o poder eclesiástico. O mestre da Ordem, com esta
acção, inviabilizou a condenação da Ordem do Templo, pois não havia matéria de
facto que a culpabilizasse: tinha-a proclamado inocente.
in Eduardo Amarante, "Templários, Vol. 3 - A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal: a Missão Marítima"
A CIÊNCIA NÃO PODE ENTENDER NEM EXPLICAR AS PROFECIAS
“As ciências físicas acabam sempre por tropeçar com as qualidades ocultas, em cuja categoria se incluem as forças elementais da natureza; e essas forças pertencem ao estudo e ao campo da filosofia, e não da ciência”, escreve Schopenhauer.
Do exposto fica-se com a ideia de que a ciência não pode, de facto entender racionalmente nem explicar as profecias em si, nem os profetas e menos ainda as suas capacidades premonitórias. Contudo, há uma ciência, a Filosofia da História, que, apercebendo-se do modo como se desenrola o processo histórico, numa sucessiva cadeia de causas e efeitos, estuda a génese (o mito) e a finalidade (arquétipo, o princípio) da História como um todo que transcende as diferentes e circunstanciais histórias (meta-história).
Actuando no mundo psíquico e fazendo parte do inconsciente colectivo dos povos, os mitos são relatos, ou memórias, que contêm em si uma verdade e, de acordo com Joseph Campbell, são também pistas para as potencialidades espirituais da vida humana, ou seja, tudo aquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente. Para tanto é fundamental apreender a mensagem interna dos símbolos. Uma coisa que se revela nos símbolos – recorda-nos Campbell – é que no fundo do abismo desponta a voz da salvação. É a íntima certeza de que quando “Deus fecha uma porta abre uma janela”, e de que “há sempre uma luz no fundo do túnel”; no fim do caminho, o Bem sempre vence o Mal e, em última instância, a Justiça Divina sempre actua , ainda que entre os homens reine a maior das injustiças numa aparente impunidade. Há, assim, dois tipos de seres capazes de prever o futuro: o profeta (intuitivo) e o filósofo da história (racional movido pela verdade).
in "PROFECIAS - da interpretação do Fim do Mundo à vinda do Anticristo", Eduardo Amarante
INFANTE D. HENRIQUE, O NAVEGADOR
O Infante D. Henrique, também denominado o “Navegador”,
nasceu no Porto a 4 de Março de 1394. Filho do rei D. João I, Mestre de Aviz
e de D. Filipa de Lencastre, cedo começou a dedicar-se aos estudos náuticos,
astronómicos e matemáticos. Antes, porém e mercê da cuidada educação
cavaleiresca que tivera, juntamente com os seus sete irmãos, na casa real onde
sua mãe, inglesa de origem, da ilustre família dos Lencastre, os iniciara no
espírito das ordens de cavalaria medievais, o Infante, após ter sido nomeado
pela própria Dona Filipa, numa cerimónia exemplar, cavaleiro de Aviz, teve a
oportunidade de mostrar os seus dotes de coragem e de firme vontade na
conquista da cidade de Ceuta, no norte de África, na qual se notabilizou pela
bravura com que combateu.
Após os deveres militares cumpridos e movido pelo seu
carácter profundo e austero, o Infante decidiu instalar-se em Sagres, no
extremo ocidental da Península, onde terá fundado a escola marítima da qual
saíram os mais prestigiosos descobridores dos novos mundos.
No seu recolhimento em Sagres, o guerreiro de outrora
empenhava-se dia e noite numa nova cruzada, mais mental, mais grandiosa: a luta
contra uma Europa descrente que acabara por renunciar, desanimada e céptica,
à nova rota dos mares. Assim, sobrepondo a sua vocação marítima a todos os
desejos temporais, não houve sombra terrena que lhe passasse pela mente. Puro
de espírito como um cavaleiro do Santo Graal, tornou-se frade de uma nova
ordem: a cavalaria dos mares. A sua força situava-se na sua convicção, na
vontade inquebrantável de transformar as superstições e as trevas de uma
época em que o mundo via no oceano a noite eterna, numa nova luz, num mar aberto
ao influxo da civilização. O interesse comercial nunca foi o motor
impulsionador deste sublime empreendimento levado a cabo pelo Infante. A única
preocupação de D. Henrique era a descoberta de novas terras, apoiada em
objectivos científicos, espirituais e humanistas.
O Infante foi um sonhador, mas teve o mérito de viver para
esse sonho. Sob o seu impulso entusiástico e persistente a grande epopeia
marítima abriu ao mundo novos mundos, permitiu o avanço das ciências e, o
mais significativo, contribuiu definitivamente para a queda de uma Idade Média
dividida e abalada pelas sucessivas crises de ordem religiosa, económica e
social.
(...) D. Henrique faleceu em Sagres no ano de 1460 sem ter
visto o seu sonho realizado. No entanto, isso pouco lhe importava, atendendo à
gigantesca dimensão do plano que o possuía, para o qual a sua efémera
existência bem curta era.
(...) Os frutos deste grande sonho foram colhidos pelos seus
sucessores, perante uma Europa até então dividida, descrente e arrogante.
Portugal, através da persistência e do método inteligente e organizado do
Infante, abriu o caminho aos novos mundos, à esfericidade da Terra, ao combate
contra a ignorância obscura da Idade Média. D. Henrique encarna tudo isto. O
seu sonho do aparentemente impossível fez-se realidade.
O grande mérito que terá tido este Príncipe solitário
foi o de fazer acreditar o seu povo no sonho que o possuía. Por isso mesmo
não viu o fim da sua obra já que esta transcendia todos os factores da
humilde condição humana. O que impulsionou este espírito genial, como
impulsiona, aliás, todos os homens possuídos de génio, não podem ter sido
os factores comuns que apenas alcançam os historiadores comuns. Não foi uma
religião, nem a riqueza, nem a ciência que moveram o espírito ardente do
Infante. Apenas a busca da transcendência humana, a vontade de ultrapassar os
limites dos horizontes físicos, a luta sem tréguas contra a natureza
indomável, as dúvidas, os medos, o desconhecido.
Eduardo Amarante
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