SER JOVEM HOJE...
“Ser-se jovem no mundo de hoje, globalizado, é tornar-se, como no aviário, homem rapidamente (no saber, na experiência, no pensar, no agir), em suma, fazer um curso acelerado, desde pequeno, de tudo o que é preciso para se ser adulto de sucesso. Mas, entenda-se que este curso (e aí é que as coisas podem tornar-se difíceis) deveria ser ministrado com base nos valores históricos, morais e espirituais (pilares na construção de todo o ser humano) e de acordo com as suas aptidões; é de uma formação sólida e adequada que dependerá o seu futuro desenvolvimento como pessoa incorporada no esquema social.
(...) Contudo, na realidade actual, os jovens não têm sonhos, não têm exemplos, não têm formação que os prepare para a sociedade do futuro, visto os caminhos de acesso à vida estarem vedados pelo espectro do desemprego, pela falta de habitação (por ser inacessível à sua carteira), pelas deficiências gritantes dos sistemas de ensino que não os preparam para a vida real. Estes jovens vêm o seu futuro... sem futuro. O que é que vão fazer? Quais as alternativas? A juventude cresce desamparada, num mundo cada vez mais competitivo, agressivo e cruel que a arrancou violentamente da idade da inocência e, em muitos, arrancou os sonhos e a própria vontade de viver.
(...) Os adultos e, mais particularmente, os políticos esqueceram-se de que os jovens são os nossos filhos, os nossos netos, os nossos “certificados de garantia” de amanhã; são eles que dirigirão os destinos de Portugal. Esquecer este facto é esquecer a nossa dimensão histórica e, assim sendo, é um puro suicídio colectivo: é a morte de um país, cuja geração vê-se castrada, mal formada e mal educada para se poder desenvolver naturalmente no caminho do futuro.
(...) Não estaremos nós a hipotecar a existência futura de Portugal? Que país se pode dar ao luxo de não dar atenção à sua juventude? Estes são os paradoxos inconcebíveis e inadmissíveis daqueles que se limitam a administrar (e mal) o nosso país.
(...) O mundo cada vez mais tende a globalizar-se e era neste preciso momento que os laços familiares e os valores humanos teriam de ser fortes. Quando esses elos são frágeis, resta a afirmação da história com os seus heróicos antepassados... ou, então, corre-se o risco de se ser submergido por algum país territorialmente maior, com mais influência dentro de uma teia de interesses mais vasta. Um dos perigos é o ressurgimento exacerbado, quase fanático, dos nacionalismos em reacção à ameaça globalista crescente. Importa encontrar o equilíbrio, que não é fácil, reconheçamo-lo, mas que não deixa de ser fundamental para a subsistência da sociedade.
(...) Em face deste panorama real, que não futurologia, cabe a nós Portugueses de cepa lusa sermos, como tantas outras vezes ao longo da História, os pioneiros na “descoberta” de um mundo em que os valores do espírito e da fraternidade imperem sobre os demais. E tudo o resto virá por acréscimo...” – Eduardo Amarante
in "PORTUGAL - A MISSÃO QUE FALTA CUMPRIR", Eduardo Amarante / Rainer Daehnhardt