BONS E MAUS GOVERNANTES

Conta-se que um dia em que o Inca Pachacutec, acompanhado pela sua corte, percorria o Império deparou-se no caminho com um aguará (espécie de raposa grande, inofensiva, existente na América do Sul) que estava preso na lama. As pessoas que por ali passavam batiam-lhe ou atiravam-lhe pedras, amedrontando o animal, que acabou por ficar enlouquecido devido aos maus tratos que lhe infligiam.
Pachacutec, ao vê-lo, desceu da liteira em que viajava, aproximou-se do aguará, tirou-o da lama e aconchegou-o nos seus braços. Assustado, o primeiro impulso do animal foi morder o Inca. Logo surgiu a guarda imperial que se preparou para matar de imediato o animal. Mas Pachacutec, com um sinal firme, impediu-a que o fizesse. Continuou a acariciar o animal até que este adormeceu nos seus braços. Aí, então, Pachacutec proferiu o seguinte ensinamento:
“Este aguará é como os povos quando são torturados e flagelados por maus governantes. Se depois vem um bom governo, o povo, julgando que é igual ao anterior, vira-se e morde a mão daquele que lhe faz bem. Não se deve reagir dizendo: ‘este povo é mau’; pelo contrário, há que continuar a fazer-lhe o bem até que ele se convença que mudou de amo.”
in "O Império do Sol - Breve História dos Incas", Eduardo Amarante