SIGNIFICADO SIMBÓLICO DO TOURO E DO JAVALI NA LUSITÂNIA


O facto de se ter encontrado no Promontório Sagrado figuras em bronze de touro e javali, com a particularidade de haver dados suficientes para se poder afirmar, como demonstra Leite de Vasconcelos, que estes animais faziam parte dos cultos religiosos, é mais um indício, assaz relevante, quanto à sacralidade do lugar.
Símbolo da força criadora, o touro é o animal consagrado ao deus EL (Kronos?). Nos cultos mithríacos ele está associado à iniciação pelo baptismo de sangue. Para Jung, o sacrifício do touro “representa o desejo de uma vida espiritual que permitiria ao homem triunfar sobre as suas paixões animais primitivas e que, após uma cerimónia de iniciação, dar-lhe-ia a paz.” Esta interpretação é análoga ao significado simbólico do Minotauro morto por Teseu no centro do labirinto.
Quanto ao javali, ele representa a autoridade espiritual, e é um símbolo da casta sacerdotal, ao contrário de Artos, o urso, emblema do poder temporal. É o animal consagrado a Lug, na Gália, e a Endovélico, na Lusitânia. A esta divindade está associado o lobo ou cão psicopômpico, portanto com uma função iniciática e solar, pois considerava-se este animal pelo seu poder de ver nas trevas, como aliás Anubis no Egipto ou o cão Xolotl no México pré-colombiano.
O lobo também estava associado a Apolo, o deus-Sol que presidia aos mistérios de Delfos, como podemos ver pela relação existente entre lukos = lobo e luke = luz.
Para certos investigadores, o nome epónimo e mítico Lusus estaria directamente relacionado com a Luz espiritual e teria perdurado no tempo como uma recordação daquele imenso saber outrora acumulado no Ocidente e transplantado posteriormente para Luksor, no Egipto.
in "UNIVERSO MÁGICO E SIMBÓLICO DE PORTUGAL", Eduardo Amarante