O REGRESSUS AD UTERUM E O NOVO NASCIMENTO

Estácio da Veiga cita que em Torre de Frades, Algarve, “o sistema de enterramento em tão apertado espaço, tendo sido o da inumação, só pode conceber-se que tivesse podido efectuar-se com os cadáveres dobrados pelas articulações dos fémures e encostados em torno do espaço escavado”. 

Vestígios destes ritos fúnebres de significado mágico-religioso, encontram-se em inúmeras sepulturas neolíticas onde havia o costume de lançar no túmulo uma pedra arredondada por cada um dos assistentes ao enterro. Hoje em dia ainda se mantém a tradição de se lançar um punhado de terra no acto da inumação do cadáver. Este costume, de traços acentuadamente “pagãos”, simboliza o grão que, semeado na Terra-Mãe, é por ela recoberto a fim de, nas suas entranhas, dar início ao processo de gestação que culminará num novo nascimento. Está, portanto, presente a ideia do re-nascer de acordo com os próprios ciclos da Natureza. Ideia essa mais viva em inúmeras culturas tradicionais que, como acabámos de ver, inumavam o cadáver em posição de cócoras ou fetal, representado ritualmente o regressus ad uterum. 

 In “Universo Mágico e Simbólico de Portugal”, Eduardo Amarante 

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 Descoberta sepultura com 8 mil anos em escavações em Alcácer do Sal, com esqueletos em posição fetal, símbolo do renascimento! “Uma sepultura com cerca de 8000 anos foi descoberta por uma equipa da Universidade de Lisboa e da Universidade de Cantábria no sítio arqueológico das Poças de S. Bento, em Alcácer do Sal. A Universidade de Lisboa indica num comunicado que a sepultura do Mesolítico foi "identificada esta semana" e "parece corresponder a uma mulher jovem, depositada sobre as costas, com as pernas fortemente flectidas". "Esta descoberta permitirá obter informação detalhada acerca do comportamento funerário destes grupos, das suas actividades rituais", adianta. A universidade informa ainda que o esqueleto humano, em "bom estado de conservação", será alvo de análises em laboratório, de ADN, dos "isótopos estáveis de carbono e nitrogénio presentes nos ossos", de "datação de Carbono 14" e de estudos paleopatológicos. "As análises serão realizadas, na sua maior parte, nos laboratórios das Universidades da Cantábria, de Oxford e de Lisboa, e no Instituto Max-Planck, de Leipzig", indica. As escavações que permitiram a localização da sepultura são dirigidas pelos professores Mariana Diniz, da Universidade de Lisboa, e Pablo Arias, da Universidade da Cantábria. Os trabalhos inserem-se no projecto SADO-MESO, "orientado para a revisão sistemática do Mesolítico e Neolítico do vale do Sado".” Lusa/SOL