Os templários seguiam o culto de S. João; eram joanitas, no sentido mais profundo do termo. Aliás, tudo neles o indica, desde o selo da Ordem expressando a natureza dupla, em que dois irmãos montam o mesmo cavalo, até às metades branca e negra do Baussant ou gonfalão, opondo a luz à obscuridade.
Tudo isto demonstra que os cavaleiros do Templo não eram apenas simples monges-guerreiros ao serviço de um Papa representando uma certa cristandade, afastada, por sinal, da mensagem mais interna ou esotérica do seu fundador.
Esta verdadeira gnose cristã defendia a crença na transmigração das almas (reencarnação), seguida pelos primeiros cristãos e por alguns Padres da Igreja, tais como S. Clemente de Alexandria, que escreveu:
“A Reencarnação é uma verdade transmitida oralmente e autorizada por S. Paulo.”
E por Orígenes, que disse:
“Quanto a saber por que é que a alma humana obedece tanto ao bem como ao mal, é preciso procurar a causa num nascimento anterior.”
Dos ensinamentos de Jesus Cristo brotaram duas Igrejas: uma que conhecemos e outra que ignoramos. Em cada uma delas encontramos os traços marcantes dos apóstolos que as edificaram. A primeira foi erguida à imagem de Pedro, espírito recto e simples, ingénuo e limitado, mas capaz de dirigir os outros.
A Igreja de João é a herdeira da Igreja de Melquisedech ou Melquisedeque, a Igreja dos que recusam as trevas e procuram a luz da Sabedoria e da Verdade. João, discípulo predilecto de Cristo, foi o único capaz de compreender a sua doutrina esotérica e de revelá-la no seu Evangelho e no seu Apocalipse, explicando através de um simbolismo alegórico os mistérios do Universo e do Ser: a sua evolução e a sua transformação, sujeitas às leis cósmicas. Ora, era esta a Igreja perfilhada pelos templários.
in Eduardo Amarante, "TEMPLÁRIOS", Vol. 3 - A perseguição e a política de sigilo de Portugal: A missão marítima