A VERDADE E A MENTIRA OU O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA NO HOMEM


No seu actual estado evolutivo, o homem comum – a imensa maioria da humanidade – vive num estado de consciência precária, e usa o seu livre-arbítrio como um brinquedo perigoso, raramente medindo as reais consequências dos seus actos. Daí provêm os muitos desvios do caminho evolutivo, desvios esses geradores de grandes sofrimentos e de atrasos na evolução. E daí a necessidade dos nossos Irmãos Maiores ou divinos Instrutores se manifestarem no mundo quando a humanidade Deles mais precisa. A este propósito citamos o que Ouspensky, na qualidade de discípulo, revelou ao mago Gurdjieff:

“O homem vulgar está constantemente num estado de inconsciência semelhante ao sono. É ainda pior, porque no estado de sono ele fica totalmente passivo, enquanto no estado de pseudo-vigília pode actuar. Mas as consequências dos seus actos repercutem-se sobre ele e sobre o seu meio e, entretanto, ele não tem consciência de si próprio. Não é mais do que uma máquina: tudo chega até ele. Não pode controlar os seus pensamentos, nem a sua imaginação, nem as suas emoções. Vive num mundo subjectivo, ou seja, um mundo feito do que ele acredita amar ou não, desejar ou não. Ignora o Real. O mundo autêntico é-lhe ocultado pelo muro da sua imaginação. Ele vive no sono.

“Como acordar? É o problema vital para todo o humano digno desse nome. O esforço, a reeducação devem começar pela convicção de que se está a dormir. Logo que ele tenha não só compreendido como comprovado que não se conhece verdadeiramente e que a análise de si mesmo constitui o primeiro passo no sentido do verdadeiro despertar, ele terá vencido a primeira barreira. Ele precisa ser ‘ajudado’ por um homem que não esteja adormecido. Esse ‘instrutor’ é absolutamente indispensável.”

Mestre “despertador de consciências”, a figura enigmática que foi Gurdjieff, mestre espiritual greco-arménio que trouxe para o Ocidente um modelo abrangente de conhecimento esotérico, relatou o seguinte aos seus discípulos, em forma de parábola, para lhes dar a conhecer o método de alcançar a consciência de si e os atributos espirituais do “Homem real”:

“Era uma vez um mágico rico e avaro que possuía numerosos rebanhos de carneiros. Não contratou um pastor nem fechou os pastos. Os carneiros meteram-se pelos bosques, caíram pelas ravinas e fugiram à aproximação do mágico, porque suspeitaram do que ele faria à sua carne e à sua lã.
“No entanto, o mágico encontrou a solução: hipnotizou os carneiros e convenceu-os em seguida de que eram imortais e que esfolá-los lhes fazia bem à saúde. Em seguida, convenceu-os de que ele era um bom guia, que era capaz de todos os sacrifícios pelos seus queridos carneiros a quem tanto queria. Depois disso, o mágico meteu na cabeça de cada rebanho que uns eram leões, outros águias e outros até mágicos. Feito isso, o mágico conseguiu o que queria. Os carneiros ficaram definitivamente amarrados a cada rebanho; eles esperavam com serenidade o momento em que o mágico os tosquiasse e cortasse as goelas.”

Meditemos bem sobre esta parábola, pois tem muito a ver com o Mito da Caverna de Platão e com a exploração do homem pelo homem, através daqueles que, ao invés de instruí-lo para que obtenha a sua libertação interior, enganam-no e escravizam-no. Gurdjieff sintetiza a importância do filósofo-guia no seguinte parágrafo:

“Se se encontram dois ou três homens ‘despertos’ entre uma multidão de ‘adormecidos’, eles reconhecem-se imediatamente, ainda que os adormecidos não os distingam… Duzentos homens conscientes, se eles considerarem a sua intervenção necessária, podem modificar todas as condições de existência sobre a Terra.”

Esta constitui uma “profecia” insofismável, que é reiterada pela seguinte frase:
“Na nossa época, a Verdade só pode chegar aos homens sob a forma de mentira. É apenas sob esta forma que eles são capazes de a digerir e assimilar. A Verdade crua seria uma comida muito indigesta…”. Neste sentido compreende-se o que Paul White afirmou quando disse que “Nada é mais estranho do que a verdade.”

in "PROFECIAS - Da Interpretação do Fim do Mundo à Vinda do Anticristo", Eduardo Amarante