D. JOÃO II, GÉNIO E VISIONÁRIO


A 25 de Outubro de 1495 faleceu no Alvor, Algarve, D. João II, o “Príncipe Perfeito”, o Rei da Casa de Aviz que tornou as “Tormentas” em “Boa Esperança”.

Enquanto o segredo sobre dados marítimos esteve sob a alçada dos Templários/Ordem de Cristo, a estrutura secreta da Ordem garantiu a exclusividade para os portugueses. Em Tomar e em Lagos, os navegadores progrediam na hierarquia somente após a sua lealdade ser comprovada, quando confrontados na acção. Só então é que eles podiam ter acesso aos relatórios reservados de pilotos que já haviam percorrido regiões desconhecidas e ver tão preciosos quão secretos instrumentos como as tábuas de declinação magnética, que permitiam calcular a diferença entre o pólo norte verdadeiro e o pólo norte magnético, que aparecia nas bússolas. E, à medida que as conquistas progrediam no Atlântico, eram feitos novos mapas de navegação astronómica, que permitiam a orientação pelas estrelas do hemisfério sul, a que também só os iniciados tinham acesso.[1]

Contudo, os êxitos repetidos despertavam o interesse e a cobiça de países estrangeiros. A Espanha, adversário tradicional, também se movimentava na esfera política da Santa Sé para minar os monopólios da Ordem, numa acção combinada com o seu crescente poderio naval. Em 1480, Fernando, de Leão, e Isabel, de Castela, começaram a interessar-se pelas terras d’além-mar. Com a viagem de Colombo[2] à América, em 1492, o papa Alexandre VI, um espanhol de Valência, reconheceu em duas bulas o direito de posse dos espanhóis sobre as terras que o navegante presumivelmente genovês havia descoberto. E rejeitou as reclamações de D. João II de que as novas terras pertenciam a Portugal. O rei não se conformou e ameaçou declarar guerra à vizinha Espanha. A controvérsia levou os dois países a negociarem, em Tordesilhas, no ano de 1494, um tratado para dividir o globo entre estas duas potências.

O tratado de Tordesilhas
No regresso da viagem à América, em 1493, Cristóvão Colombo fez uma escala em Lisboa para visitar o rei D. João II. O rei hesitou entre duas atitudes a tomar:
·       prender Colombo;
·       ou reclamar do Papa direitos sobre as terras descobertas.

Esta é a versão oficial. No entanto, há também quem defenda a hipótese de Colombo, que era casado com uma portuguesa e viajara com os nossos pilotos, estar secretamente a mando de D. João II, com o intuito de desviar as atenções de Espanha para ocidente, deixando assim livre aos portugueses a rota para sul que conduziria à Índia. Assim ficaria explicada a razão por que é que Colombo aportou primeiro em Lisboa para dar notícias em primeira mão ao rei português e deste receber directivas, e só depois seguiu para Espanha.
Como a reclamação de D. João II junto do Papa não foi atendida, o rei português decidiu enviar os melhores cartógrafos e navegadores da Ordem de Cristo, liderados por Duarte Pacheco Pereira, a Tordesilhas, para tentar um tratado definitivo com os espanhóis, tendo a Santa Sé por mediadora.
O cronista espanhol das negociações, Frei Bartolomeu de las Casas, no livro História de las Índias, escreveu o seguinte sobre a competência da parte portuguesa:
“Ao que julguei, tinham os portugueses mais perícia e mais experiência daquelas artes, ao menos, das coisas do mar, que as nossas gentes.”

Essa vantagem era dada pela estrutura secreta da Ordem. Portugal foi bem sucedido no acordo. Pela bula Inter Caetera, os espanhóis tinham direito às terras situadas a mais de 100 léguas a oeste e sul das ilhas dos Açores e de Cabo Verde. Pelo acordo de Tordesilhas, a linha divisória imaginária, que ia do pólo norte ao pólo sul, foi alongada para 370 léguas, ficando tudo o que estivesse a leste desse limite reservado para os portugueses, incluindo o Brasil.
Até meados do século XV, os cavaleiros de Cristo lançaram-se no projecto marítimo sem esperar auxílio do Estado português. Porém, uma vez anunciada a colonização de novas terras, entregavam à Coroa o domínio material dos territórios, mantendo, contudo, o controlo espiritual. À Corte, interessada em promover o desenvolvimento da produção de riquezas e do comércio, cabia então consolidar a posse do que havia sido descoberto.

In Eduardo Amarante, “Templários”, vol. 3



[1] Refira-se que a navegação dos mareantes portugueses fazia-se tendo como referência a estrela Sírius (estrela sagrada para os egípcios – Sho­ter) e não a Estrela Polar.
[2] Saliente-se que Cristóvão Colombo era casado com uma filha de um navegador português, pertencente à Ordem de Cristo, e que desse contacto terá tido acesso aos diários e cartas de navegação.