AS INICIAÇÕES E OS MISTÉRIOS DE ÍSIS



A etimologia da palavra mistério provém de segredo ou germe, ou seja, algo que não deve ser revelado aos profanos ou ao homem vulgar que, na sua própria etapa evolutiva, é como o “botão da árvore – não deve nem pode abrir-se durante os letais frios do Inverno, até que o tépido hálito da nova Primavera o vitalize”[1]. Mas segundo o ensinamento iniciático tradicional, a palavra mistérios provém do grego teletai ou perfeição, e de teleutéia, morte, o que significa que o renascimento espiritual é sempre precedido por uma morte iniciática[2].

As iniciações foram verdadeiras escolas em que se ensinaram as verdades da religião primitiva (mãe de todas as religiões), a existência de um Deus único, Incognoscível e Inominado, a imortalidade da alma, os fenómenos da natureza, as artes, as ciências, a moral, a legislação, a filosofia, a geometria, a metafísica e muitas outras ciências apenas conhecidas pelos iniciados, homens de grande elevação moral e espiritual, que, assim, evitavam a má utilização desses conhecimentos por mentes pervertidas e sem escrúpulos, como sucede, infelizmente, nestes inícios da era de Aquário, em pleno Kali Yuga[3].

Em épocas tão obscuras quanto a nossa, em que se vivia no caos das superstições populares, o homem pôde sair da barbárie graças aos mistérios, e isto porque, entre os iniciados prevalecia a ideia de civilizar os costumes das gentes bárbaras, para que pudessem integrar a sociedade, conduzindo os seres humanos mais atrasados a uma existência digna, inculcando-lhes, para tal, a ética e a moral, como bases das instituições humanas. De entre esses mistérios há que salientar os de Ísis, que contribuíram grandemente para a melhoria da condição social da humanidade, aperfeiçoando os costumes e vinculando os indivíduos à sua comunidade por meio de deveres sagrados e recíprocos. Pouco a pouco, os mistérios foram perdendo a sua importância, até desaparecerem, ou melhor dito, ocultarem-se. No Ocidente foram abolidos pelo imperador romano Teodósio no séc. IV d.C.[4].

in Eduardo Amarante, "Profecias - Da interpretação do Fim do Mundo à vinda do Anticristo"
[1] In M. Roso de Luna, ob.cit.
[2] O mysterium latino corresponde ao grego teletai, cuja raiz original se encontra na palavra teleutéia, morte.
[3] Tida como a Idade (Yuga) de Ferro no pensamento hindu. Tem uma duração de 432.000 anos, sendo que desses já passaram 5.000 anos e caracteriza-se por ser um período de intoxicação da informação, prostituição, chacina de animais, jogo e destruição da natureza.
[4] Teodósio interditou, progressivamente, todos os cultos não cristãos. Pouco a pouco, os templos não-cristãos foram fechados ao culto e as procissões “pagãs” proibidas. Foi nessa época que aconteceram na Germânia as primeiras execuções de hereges, uma negra tradição que a Igreja desenvolveria com a Inquisição e a perpetuaria até 1826.