O Mestre templário que, na realidade, tinha o qualificativo de Magister Humilis[1], reservava
para seu uso pessoal o selo da “cúpula do Templo do Senhor”, sede da Ordem,
enquanto o Visitador Cismarim[2] levava
no seu a figura dos dois cavaleiros sobre a mesma montada[3].
O selo do Templo era circular e tinha representações em ambos os lados.
No verso, a menção XRISTI DE
TEMPLO rodeando a representação da
famosa Cúpula da Roca, sede da Ordem, situada no local do antigo Templo de
Salomão e posteriormente rebaptizada Templo do Senhor[4].
Na frente, a menção sigillvm
militum a toda a volta do selo onde
figuravam dois cavaleiros montados no mesmo cavalo. Qual o seu significado?[5].
Dando fé aos cronistas ingleses, pretendeu-se ver nele o símbolo da
pobreza inicial da Ordem, explicação que parece ser mais simbólica do que
verosímil. Não esqueçamos que eram cavaleiros que deveriam ter algumas posses e
que, inclusivamente, a própria Regra
indicava que cada um devia ter dois cavalos. Assim, esta representação deveria simbolizar a união e a entrega de
cada cavaleiro em benefício de todos: o bom entendimento, a harmonia e a
disciplina que deviam reinar em todos os ofícios da Ordem.
Na sua luta espiritual, o
cavaleiro é servo e instrumento de acção da divindade e, nesse âmbito,
realiza-se na concretização dessa causa. Assim, o símbolo do cavaleiro
inscreve-se numa clara intenção de espiritualizar o combate. Por conseguinte, o
ideal do cavaleiro manifesta-se no desejo de participar na realização de uma
missão que se distinga por uma moral elevada e sagrada. A Regra insiste na vida que se deve ter em comum e o selo
simboliza-a.
in Eduardo Amarante, "Templários", Vol. 1
[1] O Mestre do Templo também era designado Mestre do Templo de Jerusalém. Para além da denominação Magister Humilis, tinha outras de acordo com o teor dos documentos a assinar: Magister Militæ Templi, Hugo Peccator, Robertus
Magister e Minister
Humilis.
[2] Por volta de 1164 foi criado o cargo de Visitador
Cismarim, que auxiliava o mestre na administração das casas do Templo na
Europa. Na época, o grande mestre era Bertrand de Blanquefort e Geoffroy
Foucher era o visitador.
[3] Por sua vez, no Ocidente, o mestre de França usava
no seu selo a rotunda do Templo de Paris que mais não era do que a réplica da
de Jerusalém, com um abraxas como contra-selo. Por fim, as comendas e casas
templárias adoptaram, regra geral, um castelo com três torres.
[4] Os templários restauraram o edifício octogonal
chamado Cúpula da Roca, tendo-o consagrado solenemente em 1142. A partir de
então, chamaram-lhe Templo do Senhor. É
a actual Mesquita de Omar.
[5] É curioso
encontrar esta representação de dois cavaleiros montados no mesmo cavalo quando
a própria Ordem do Templo o proíbe expressamente. No seu artigo (Retrait) 379 diz
o seguinte: “E dois irmãos não devem cavalgar uma só montada”. Recordemos que
era obrigatório a todos os cavaleiros que ingressassem na Ordem possuir dois
cavalos. Ora, daqui se depreende que esta representação do selo é simbólica.