Esta sigilografia é profundamente simbólica e pode ter vários
significados. São eles:
· O símbolo dos dois mundos: o material e o
espiritual;
· O símbolo da dualidade na acção: o guerreiro, mais
activo (exotérico-exterior) e o monge mais passivo (esotérico-interior);
· O símbolo de duas religiões: a cavalaria cristã e a
cavalaria muçulmana servindo o mesmo ideal tradicional, representado pela
montada comum[1]; duas
religiões que se unem para originar o império do Espírito, que na época
constituía uma heresia;
· O símbolo da dupla missão templária: a missão
pública, que satisfazia a Igreja na defesa dos cristãos desprotegidos; e a
missão “secreta”, universal, separada da Igreja, e cuja finalidade, hoje,
dificilmente alcançamos em toda a sua dimensão histórica;
· O símbolo do duplo poder: a aliança a ser realizada
entre a autoridade espiritual e o poder temporal;
· O símbolo de duas formas de vida: intelectual e
prática; uma e outra têm necessariamente de trabalhar em conjunto (Ora e Labora) em prol de uma causa;
· O símbolo da dualidade interna do homem: a natureza
inferior (o mal) e a natureza superior (o bem).
Assim, a presença dos dois cavaleiros simboliza a dupla função da Ordem,
guerreira e religiosa, mas também a dualidade em tudo o que existe: o Oriente e
o Ocidente, o Antigo e o Novo Testamento, a luta apocalíptica entre o bem e o
mal, as trevas e a luz, etc.
in Eduardo Amarante, "Templários", Vol. 1
[1] A este trecho é interessante salientar que, por
exemplo, na insígnia de uma cidade do Algarve, Silves, encontra-se uma
elucidativa representação simbólica de dois rostos diferentes quanto à vestimenta
utilizada: um é cristão, outro muçulmano. Será que esta representação pretende
traduzir a união (coexistência pacífica entre dois povos diferentes) entre o
mundo árabe e o mundo cristão? Como é que em terras portuguesas se logrou
alcançar esta estratégia? É um assunto que retomaremos quando, no volume II,
falarmos sobre a formação de Portugal.