O SELO ABRAXAS E O SEU SIGNIFICADO SIMBÓLICO



O Abraxas é um personagem fabuloso que segura com a mão direita um escudo e com a esquerda um látego. O busto e a cabeça são de galo, com o bico levantado. As pernas e os pés terminam em forma de serpentes; à sua volta, por vezes acompanhadas de estrelas, as letras grega I A W, iota, alfa e omega, respectivamente.
Os Abraxas utilizados para selar são gemas que remontam ao século II d.C. Essas gemas eram engastadas em anéis usados pelos primeiros cristãos de tendência gnóstica, em particular os discípulos de Basílides[1], que fez um sincretismo entre as correntes mitríacas, orientais e celtas do cristianismo primitivo.
Abraxas é uma palavra composta por sete letras que faz referência aos sete planetas e aos sete arcanjos. Ao decompor esta palavra, segundo o sistema grego de numeração[2], obtém-se, ao somar os valores dessas sete letras, o número 365, isto é, o ciclo do ano, o infinito ou o céu fixo onde os sete planetas se movem.
O monstro central deste selo é Panthé[3], ser híbrido que reúne vários símbolos e atributos divinos. A sua cabeça, em forma de galo, virada para o céu simboliza o seu canto que faz nascer o sol ou a luz do Conhecimento. As pernas terminadas em corpos de serpente represen­tam a imagem da dualidade luz-trevas. Nesta representação há um claro paralelismo com o gonfalão baussant, negro e branco (luz-trevas), dos templários.
As letras I A W são as iniciais de IhsovV ou Jesus, com o alfa e o omega, visão gnóstica do Cristo do Apocalipse de S. João Evangelista, que neste selo é mostrado com o escudo, protegendo os seus adeptos.
O látego que Panthé segura na outra mão, por vezes substituído por um caduceu, parece ter sido, como no Antigo Egipto, insígnia de um grau ou função exercida pelo portador do anel.


in Eduardo Amarante, "Templários", Vol. 1





[1] Basílides, filósofo cristão gnóstico da Escola de Alexandria, viveu por volta do ano 130. Foi incumbido, em Alexandria, de dar ao cristianismo a dimensão cosmológica de que carecia, desenvolvendo a pesquisa do Conhecimento (Gnose) em detrimento da moral e da fé, únicos ou principais fundamentos primitivos. Para tal, necessitava de conciliar as grandes correntes neoplatónicas com a fé cristã nascente. Basílides foi o mentor da tendência gnóstica na Igreja, doutrina que esteve na base do pensamento beneditino, cisterciense e, obviamente, templário. Perseguido pela Igreja, todos os seus escritos foram destruídos. O mesmo veio a acontecer séculos mais tarde com os dos templários.
[2] Segundo este sistema ABRAXAS: A = 1; B = 2: R = 100; A = 1; X = 60; A = 1; S = 200. Somando estas parcelas, o total é idéntico ao número 365, que corresponde aos dias do ano.
[3] Pan-Thé, nome que etimologicamente deriva do grego Pan = tudo (natureza) + Thé (Théos) = Deus. É o Deus do todo, simbolizando a energia criadora desse Todo. De Pan provém a palavra pânico, terror que se espalha a toda a natureza e a todos os seres em virtude da presença desse Deus que perturba o espírito e turva os sentidos. Filósofos neoplatónicos e cristãos fizeram dele a síntese do paganismo. A morte de Pan simboliza o fim das instituições (in Dictionnaire des Symboles, p. 724).