A HISTÓRIA REPETE-SE…



Alexandre Herculano, na sua obra 'História da Origem e Estabelecimento da lnquisição em Portugal', retrata nos seguintes termos esse período (meados do séc. XVI) que anunciava a decadência de Portugal:

“Os vexames e abusos na administração da Justiça praticavam-se em todas as instâncias desde as inferiores até às mais elevadas, e não só no foro secular, mas também no eclesiástico. O reino estava cheio de vadios que viviam opulentamente sem se saber como. O vício do jogo predominava em todas as classes, com as suas fatais consequências de roubos, discórdias e miséria doméstica. O luxo era desenfreado. A Corte andava atulhada de ociosos, e a casa real dava o exemplo da falta de ordem e de economia. Nos paços dos fidalgos via-se um sem número de criados, bem superior ao que permitiam as suas rendas, de modo que faltavam os braços para o trabalho, sobretudo para a agricultura. Qualquer viagem de el-rei era um verdadeiro flagelo para os povos por meio dos quais transitava. A imensa comitiva de parasitas de todas as ordens e classes devorava a substância dos proprietários e lavradores. Mantimentos, cavalgaduras, carros, tudo era tomado, e os detentores ou não pagavam, ou pagavam com escritos de dívida, divertindo-se os cortesãos, muitas vezes, em destruírem os frutos, as fazendas e as matas."

Para agravar ainda mais esta situação, D. João III decidiu reformar a Ordem de Cristo que deixou, a partir de então, de ser uma Ordem de cavalaria para se tornar uma Ordem monástica. Algo de muito importante foi então destruído, e esse algo era a cruzada pelos oceanos não só físicos, mas, sobretudo, espirituais .

in "TEMPLÁRIOS, Vol. 3 - A Perseguição e a Política de Sigilo de Portugal: a Missão Marítima", Eduardo Amarante