"Houve autores (como foi
o caso, por exemplo, de Fernand Niel) que defenderam a ideia de que os dólmens
tinham um objectivo meramente funerário, tendo em conta o grande número de
restos humanos encontrados no interior de muitos deles. Porém, um dos traços
mais desconcertantes destes monumentos é que, por vezes, os crânios pertencem a
diferentes raças e épocas, o que indicia ter sido este um meio tardio, em
relação à data da sua construção, de depositar os mortos sob um monumento
sagrado ainda que se igno rasse a origem e finalidade da sua construção. Tudo
isto parece pôr em evidência uma série de incoerências nas teorias clássicas
sobre o megalitismo. Por outro lado, existem muitos outros dólmens que nunca
contiveram restos humanos. Inclusivamente, é no mínimo estranho que dólmens
construídos sobre leitos de rios ou fontes servissem de necrópoles. Ora, assim
sendo, cabe-nos perguntar se não estaremos perante sinalizadores de enclaves
mágicos, como defendem alguns estudiosos. As investigações realizadas na
Grã-Bretanha sobre as linhas Ley trouxeram à luz do dia o potencial energético
e, inclusive, o poder curativo dos megálitos. Também houve quem estabelecesse
um paralelismo lógico e racional entre os monumentos megalíticos e as catedrais
góticas, pondo em relevo a incongruência que resultaria em defender que a única
função das catedrais fosse sepulcral, pelo simples facto de nelas repousarem os
restos de santos, bispos e nobres. Na verdade, todos sabemos que a função do grande
templo gótico está muito para além da meramente funerária e constitui o
paradigma de uma determinada concepção do mundo e das coisas e, inclusivamente,
do mundo invisível. Por que não pensar o mesmo em relação aos monumentos
megalíticos? Aliás, uma catedral gótica evidencia uma ordem moral e social
estabelecida, um conceito do homem configurado em função da sua vida
espiritual. Em face desta interpretação, questionamo-nos sobre o que os
megálitos queriam exactamente simbolizar: uma concepção humana do mundo em
relação com a divindade?
Sob os dólmens não só se
encontram restos humanos como também utensílios de várias épocas, tais como
cerâmicas, moedas e até mesmo estatuetas romanas... Ora, esta situação
demonstra-nos que houve povos que reutilizaram esses dólmens como necrópoles,
ignorando de todo o verdadeiro fim para que tinham sido construídos milénios
antes.
O uso funerário de
inúmeros dólmens não significa que essa fosse a sua única função. Em muitos
deles tratou-se de uma reutilização, por uma cultura posterior, para um fim bem diferente do
inicial. Noutros, não era senão uma função entre outras, do mesmo modo que a
presença de túmulos nas catedrais ou nas igrejas não passa de um uso secundário no quadro
do seu papel sagrado e energético.
Quando estudamos as suas
formas de construção apercebemo-nos de que eram algo bem mais importante do que
simples monumentos funerários. E isto porque os lugares onde foram
construídos não foram escolhidos casualmente, mas, pelo contrário, eram lugares
percorridos por correntes telúricas em estado puro. Em alguns casos, no cimo do
tumulus ou mamoa ergue-se um menir como que assinalando-o.” – Eduardo Amarante